quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Novo blog no ar!


A autora deste blog tomou chá de sumiço! Sim, tomei, e vou lhes dizer o motivo: falta de tempo. E olha que não estou trabalhando desde junho! "ENTÃO COMO VOCÊ NÃO TEM TEMPO?" você me pergunta, em letras garrafais mesmo porque é no susto. Pois é, também não sei. O fato é que o tempo voa (muito mais do que eu), e passa numa velocidade tal que quando eu pisco o olho, ops, acabou o dia. E dia após dia isso piora, a ponto de eu começar a me estressar com esta falta de tempo. Hahaha, parece piada mas não é, eu juro!

Verdade seja dita, acho mesmo é que eu inclui tantas tarefas no meu dia que as horas que eram gastas para o trabalho são hoje utilizadas para outras mil finalidades. A boa notícia? Finalidades muito mais prazerosas. Ok, algumas nem tanto, como a academia, 6 vezes por semana. Mas tudo bem, faz bem para a saúde e os glÚtEos agradecem.

Pois bem, não tem nada que me dê mais prazer do que viajar (e planejar minhas viagens, o que me toma um tempo enoooorme). Nos últimos meses foram muitos os lugares visitados, a ponto de alguns amigos acharem que eu estava fazendo uma volta ao mundo! Calma lá, não foi para tanto. Na verdade eu até que rodei pouco, não sei de onde as pessoas tiraram isso! Basicamente, foram 2 meses nos EUA e 15 dias na Alemanha. Eu sinceramente queria que tivesse sido mais! Muito mais! E foi essa angústia que me fez pensar no próximo destino, o qual estou embarcando dia 10.

Quer saber, quer saber? Não conto, nã nã nã nã nã não!

Mas fico feliz com o seu interesse, de coração :) Tão feliz, que montei um blog para compartilhar as minhas experiências nessa super jornada. Clique aqui e passe lá! Você vai descobrir para onde eu vou, e vai me deixar feliz com a sua visita!

E para os mil fãs do Andar e Voar - minha mãe e meu cachorro (de pelúcia) - não se desesperem! Continuarei postando aqui tudo que não for relacionado a viagem. Se eu tiver tempo! :P

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Peixe ao estilo japonês


Eu amo cozinhar. Sim, passei um tempo longe das panelas, mas de uns 4 meses para cá, não há nada que me dê mais prazer do que comer algo que eu mesma preparei, e que (surpreendentemente!) tenha ficado uma delícia!

Antes tarde do que nunca, começarei a postar aqui as minhas peripécias culinárias. Esse peixinho aí em cima é super fácil de fazer, e ficou de lamber os beiços. A fonte? Sir. Ferran Adrià no seu livro "The Family Meal". Pensando bem, com uma receita vinda deste gênio, era difícil dar errado.

Ingredientes:


- 1 cebola branca pequena (a receita pede 1 chalota, mas é difícil de encontrar. A cebola branca substitui bem);
- 6 raminhos de coentro;
- 1 pedaço de gengibre pequeno;
- molho shoyu;
- óleo de girassol;
- Tempero pronto Hondashi (opcional);
- sal a gosto;
- 2 peixes pequenos inteiros (eu fiz com Pescada, mas você pode usar outros tipos).

Compre o peixe já limpo e lave-o em água corrente para retirar vestígios de sangue. Faça 3 cortes em cada lado do peixe, de cima para baixo (da espinha para a barriga, mas sem chegar a atingir o corte inferior na barriga), com uma distância de mais ou menos 3 dedos entre um corte e outro (essa distância vai depender do tamanho do peixe). Tempere com sal, dentro do peixe e nos cortes. Coloque uma panela funda de água para ferver. Enquanto a água atinge a temperatura de fervura, corte a cebola em meias rodelas, retire as folhinhas de coentro dos talinhos, e corte o gengibre (com casca) em rodelas bem fininhas. Assim que a água ferver, misture o tempero Hondashi (a receita não menciona este tempero, mas eu coloquei e ficou bom) e coloque os peixes para cozinhar por 12 minutos, ou até a carne ficar branca opaca e se desprender fácil das espinhas. Enquanto o peixe cozinha, frite o gengibre no óleo de girassol até ele começar a enrolar. Retire o peixe da água com cuidado para que ele não se desfaça. Jogue a cebola, o coentro e o gengibre frito por cima. Pegue algumas colheres do óleo de girassol ainda fervendo da fritura do gengibre e jogue por cima das cebolas, o que dará o leve fritada nelas. Por último, regue com umas 4 ou 5 colheres de molho shoyu. Está pronto para servir!


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Sonho do Celta – Mario Vargas Llosa

A crueldade humana. Às claras ou de forma velada, com violência ou com preconceito, física ou moral, a crueldade necessita apenas de uma brecha, um ambiente propício para se manifestar. Temos a ingênua impressão que vivemos num mundo civilizado, onde matar, ferir, abusar e escravizar são indiscutivelmente crimes. Mas acabe com as leis e cancele as punições para tais crimes, e veja o que acontece. Viramos bichos. Com uma única diferença para estes últimos: não somos cruéis apenas pelos alimentos, sexo ou território, mas sim também pela ganância, pelo poder, pela cobiça e pelo dinheiro.

Roger Casement, personagem central do livro, era um irlandês nascido numa época que a Irlanda era colônia inglesa. Romântico, Roger acreditava que o colonialismo iria levar civilidade aos povos africanos, como educação, saúde e religião. Quanta ingenuidade. Demorou um tempo até Roger se dar conta, mas a constatação foi inevitável: era melhor para os nativos africanos sua condição anterior de “selvagem”, do que a presença do homem branco, que lhes açoitava, escravizava e arrancava qualquer vestígio de dignidade humana, que mesmo “selvagens” eles possuíam.

A primeira parte do livro conta esta experiência dramática de Roger no Congo, onde, de defensor do colonialismo, ele se tornou o porta-voz das tribos africanas contra a exploração de seu trabalho e a crueldade contra seu povo, denunciando as barbáries e atrocidades cometidas por uma empresa inglesa a qual ele mesmo fora empregado. E num tom quase que sentencioso, o narrador nos revela algo que parece ser a espinha central do livro: “Ele fora humanizado pelo Congo, se é que se tornar humano significa conhecer os extremos a que podem chegar a cobiça, a avareza, os preconceitos, a crueldade. A corrupção moral era isto, sim: algo que não existe entre os animais, uma exclusividade dos humanos. O Congo lhe revelou que essas coisas fazem parte da vida. Abriu seus olhos.”

De fato, Roger nunca mais foi o mesmo. A não ser por uma certa ingenuidade que o perseguiu até os seus últimos dias. Após o Congo, foi cônsul britânico no Brasil, até receber a tenebrosa missão de investigar possíveis crimes cometidos por uma empresa peruana na selva amazônica contra os indígenas. A realidade do Congo se repete no continente americano, o que traz duas conseqüências antagônicas ao nosso personagem: ao mesmo tempo que ele recebe a condecoração de cavalheiro britânico por sua coragem e ousadia em denunciar os abusos aos direitos humanos, Roger se torna cada vez mais partidário da independência da Irlanda, ou seja, inimigo do Reino Unido que colonizava seu país e “explorava” seu povo, o povo de Roger.

O grande trunfo de Mario Vargas Llosa (na minha opinião) foi buscar numa história verídica elementos pessoais de Roger, e transformá-los num romance repleto tanto de fatos históricos quanto de sentimentos, desejos e medos que somente Roger teria a capacidade de nos contar de forma completamente verídica. Ou seja, a história também se transforma em ficção. E isto, num primeiro momento, chegou a me incomodar, pois me senti invasora de uma privacidade meio inventada de um indivíduo que realmente existiu. Mas depois entendi o propósito do autor: através da intimidade (mesmo que parcialmente inventada) de Roger, podemos entender a complexidade da crueldade humana. Não apenas aquela física e sanguinária, mas também a psicológica, aquela que atinge a alma e não o corpo, e que se traduz muitas vezes em preconceito, covardia, vergonha e solidão. Uma crueldade tão violenta quanto a outra, mas que nós insistimos em praticar até os dias de hoje, quase um século após a vida e morte de Roger. E continuaremos, enquanto houver brechas, enquanto houver ambientes propícios, e principalmente, enquanto formos humanos, sem a menor sombra de dúvida.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As Entrevistas da Paris Review

“Uma das coisas mais tristes que existem é que a única coisa que um homem pode fazer durante oito horas por dia, todos os dias, é trabalhar. Você não pode comer oito horas por dia, nem beber oito horas por dia, nem fazer amor por oito horas – você só pode trabalhar por oito horas. E é por essa razão que o homem faz a si mesmo e a todos os outros tão miseráveis e infelizes”.

Quem disse isso foi William Faulkner. Se você não sabe quem é o sujeito – tudo bem, eu também não sabia até uma semana atrás – trata-se de um escritor norte-americano ganhador do Nobel de 1949 e conhecido por utilizar a técnica do fluxo da consciência, aquela que você fala tudo que vem a mente e não usa pontuação alguma e vai assim falando falando coisas as vezes sem nexo que depois descobrimos o sentido e tudo depois se encaixa num movimento natural e a escrita parece que foi muito fácil de ser feita o que é o trunfo deste estilo porque na verdade seus autores penaram bastante penaram muito até para dar esse tom de descaso e profundidade tudo ao mesmo tempo. Entendeu?

Mas o propósito aqui não é falar especificamente sobre Faulkner ou sobre a técnica do fluxo da consciência (da qual sou traumatizada por causa de Gertrude Stein, mas tudo bem). O que quero é lhes apresentar esta maravilhosa coletânea de entrevistas realizadas pela Paris Review, que nos últimos 60 anos vem entrevistando grandes nomes da literatura mundial com Faulkner, Hemingway, Capote, Céline, entre tantos outros.

As entrevistas são realizadas de forma descontraída e buscam não apenas falar sobre a obra do autor, mas também sobre a sua rotina de escritor, seu processo criativo, seus anseios, desafios e até mesmo seus medos. Após ler todas as entrevistas, é bom entender que neste mundo da escrita não há regras. Não importa se você é um leitor ferrenho desde criança, ou se só se interessou pela leitura com mais idade. Tanto faz se você sempre quis ser escritor, ou só se descobriu numa “máquina de escrever” já bem adulto. Cada escritor entrevistado tem sua história, suas manias, suas fontes de inspiração, sua forma de escrever, e claro, seus defeitos como ser humano.

Como aspirante a escritora, sinto que mais do que conhecimento sobre os autores, o que ganhei ao ler este livro foi esperança. Eu explico. A gente tende a achar que algumas profissões só podem ser realizadas por pessoas que já nasceram com elas, ou seja, que tem o dom. Mas o que é o dom? Se a pessoa realiza exatamente aquilo que a sociedade espera como o belo, será que esta pessoa não está imitando algo que já exista? Então seria o dom da imitação? E se a pessoa consegue criar algo completamente diferente e incrivelmente lindo, como será sua vida antes desta sua criação? Em outras palavras, como perceber todo aquele dom em algo ainda não realizado? A verdade é que enquanto não produzimos, não temos dom de nada. Foi assim com todos os escritores entrevistados pela Paris Review, e imagino que seja assim em todas as profissões (artísticas ou não). Ou seja, mãos a obra Carolina! Enquanto você não produzir, não há material a ser avaliado! E se tudo ficar uma porcaria, tudo bem, você tem ao menos o dom de tentar! (entenderam a esperança?)

Eu não poderia deixar de colocar aqui algumas pérolas do livro, como o trecho acima da entrevista de Faulkner. Tenho vontade de colocar um trechinho de cada autor, mas não posso, ou corro o risco de ser processada pela editora! Seguem as que eu achei mais interessantes, ou cômicas, ou simplesmente divertidas... Aproveitem.


Faulkner

Entrevistadora: Algumas pessoas dizem que não conseguem entender o que o senhor escreve, nem mesmo depois de ler duas ou três vezes. O que o senhor poderia lhes sugerir?

Faulkner: Que leiam quatro vezes.


Hemingway

Entrevistador: É fácil para o senhor mudar de um projeto literário para outro, ou o senhor continua até o fim aquilo que começa?

Hemingway: O fato de ter interrompido trabalho sério para responder estas perguntas prova que sou tão burro que deveria ser severamente castigado. E serei, não se preocupe.

***

Entrevistador: Costuma-se dizer que um escritor lida com uma ou duas idéias em toda a sua obra. O senhor diria que sua obra reflete uma ou duas idéias?

Hemingway: Quem disse isso? Soa muito simplório. O homem que fez essa afirmação provavelmente tinha só uma ou duas idéias.


Céline

Entrevistador: Nos seus romances, o amor tem muita importância?

Céline: Nenhuma. Você não precisa dele. Você deve ter modéstia quando é um romancista.

***

Entrevistador: O senhor acha que é ainda um dos maiores escritores vivos?

Céline: Que nada. Os grandes escritores... não tenho que ficar dando voltas com adjetivos. Primeiro você tem que morrer, e quando você estiver morto, aí eles vão classificá-lo. Primeiramente você tem que estar morto.


Paul Auster

“Tendemos a subestimar a inteligência das pessoas da classe trabalhadora deste país. Baseado na minha experiência, acho que a maior parte delas é tão inteligente quando as pessoas que mandam no mundo. Apenas não são tão ambiciosas – só isso. Mas suas conversas são muito mais divertidas.”

***

“Um romance é o único lugar do mundo onde dois estranhos podem se encontrar em absoluta intimidade. Leitor e autor fazem juntos o livro. Nenhuma outra arte é capaz disso.”

***

Entrevistador: Escrever ficção se tornou mais fácil para o senhor ao longo dos anos?

Auster: O fato de já ter escrito livros antes parece não ter nenhuma importância. Sempre me sinto como um iniciante, atravessando as mesmas dificuldades, os mesmos bloqueios, o mesmo desespero. A gente comete tantos erros como escritor, risca tantas frases e idéias ruins, descarta tantas páginas imprestáveis que acaba descobrindo, apenas, que é um idiota. É um trabalho humilhante.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica 3 - Eu canceriana

Ultimamente eu venho lendo o horóscopo. Sim, e digo isso num tom de confissão. Sempre fui avessa a essas coisas, não acredito em astrologia, numerologia, muito menos em duende. O conceito é simples: se os astros direcionam minha vida, porque os buracos negros, ou as espaçonaves extra-terrestres também não têm esse direito? Estão todos lá, no espaço sideral, brigando por um destino aqui, um amor não correspondido acolá... Enfim, pensar que Saturno, por estar numa posição tal em relação a Netuno, faça alguma diferença na minha vida, simplesmente não entra na minha cabeça. Mas então, “por que cargas d’água venho lendo o horóscopo?”, você me pergunta.

Ora, eu abro o jornal, Segundo Caderno, e vou olhando as reportagens, matérias sobre livros, filmes, eventos culturais, tudo muito interessante. Até que, de repente, caio na página de tirinhas, palavras cruzadas, e ele, o horóscopo. Nãohácomonãoler. Quase como uma força gravitacional (os astros me entenderão!) meus olhos são atraídos por aqueles textinhos organizadinhos com uns simbolozinhos tão bunitinhos. Uma coisa fofa. Eu tento não ler (juro juro juro), resistir ao incontrolável impulso. Mas sou traída pelo meu próprio signo, câncer, cuja “modalidade” é justamente “impulsivo”. Leio, e já estava tudo escrito nos céus.

Porém, hoje, os astros me pregaram uma peça. Da-na-di-nhos. Vejam só o que eles me disseram: “A sensação de liberdade e a possibilidade de novas experiências nos tornam mais seguros de nossas emoções”. Estaria tudo bem, se tivessem parado por aí. Sim, concordo, é sabendo que podemos conquistar o mundo que nos permitimos pensar em qual lugar desbravar primeiro. Faz sentido. Mas aí veio a segunda parte, em negrito, num preto saltitante aos olhos: “É tempo de se livrar dos padrões antigos e optar por expressar as emoções de forma completamente diferente do habitual”. Choquei.

Fiquei a imaginar o que seriam padrões antigos. Cartas? Telegramas? Faxes? Afinal, estamos falando da forma, e não do conteúdo. Será que facebook já é antigo? Novo mesmo é o Google+. O que dirão então do e-mail, se não um método arcaico de comunicação? E do Messenger, coitado? Esse aí ganha apenas novas roupagens (bbm, whats app...), mas não deixa de já ser um senhor de meia idade, tentando parecer “garotinho surfista descolado moderninho”.

O horóscopo foi claro, nada de padrões antigos (se livre deles!), mas o que agrava mesmo a situação é o mandamento de que devo expressar meus sentimentos mais íntimos e secretos (que como boa canceriana, tenho aos montes, ou deveria ter) de forma COMPLETAMENTE diferente. Que desespero. Pensei em escrever numa faixa que estou com raiva dos flamenguistas que (mais uma vez) fizeram bonito no campo, e colocar no rabo de um avião daqueles que passam na praia, sabe? Mas achei que isso fosse padrão antigo. Depois pensei: antigo para quem? Para mim não é, nunca fiz! Ok ok, acho que nunca farei também, too much for me.

Quem sabe então se eu pendurasse uma faixa na minha varanda? Ou pagasse por um espaço publicitário no jornal? Ou mandasse um vídeo para o Fantástico? Ou quem sabe, tatuasse no meu corpo: “hoje me sinto saudosa, porém confiante”. Será que Júpiter ficaria feliz com minha obediência? Se vocês virem a lua pulando por aí, é a minha regente expressando (da forma dela) toda a felicidade por ter contribuído de maneira sobrenatural (no sentido místico mesmo) com a minha existência. Vou parar por aqui, ou vocês começarão a achar que andei utilizando certos alucinógenos, daqueles que transformam anões de jardim em duendes. Olha os duendes aí! E quem disse que eles não existem?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Clube do Filme - David Gilmour

Você, que não tem filhos, já parou para pensar o quanto deve ser duro educá-los? Vejo alguns amigos meus com filhos e, ao mesmo tempo em que acho tudo lindo e maravilhoso, também penso: “Meu Deus, que responsabilidade enoooorme!”. Aquele pequeno ser humano que hoje é apenas um “pingo de gente”, como minha mãe diz, amanhã será um adulto, com seus próprios valores e princípios. E aí eu me pergunto: “Será que existe uma forma certa de educar? Alguma fórmula mágica? Algum manual de instruções?”. E a resposta é óbvia e desoladora: “Claro que não”.

Porque estou falando sobre isso? Por que é exatamente sobre isso que este livro trata. O pai, um crítico de cinema desempregado, se vê diante de uma situação trágica: seu filho adolescente detesta a escola e está a beira da reprovação em todas as matérias. O pai tenta ajudar como pode, conversando, incentivando, auxiliando o filho nas lições de casa. Mas nada dá certo. O garoto não consegue, simplesmente não consegue. E não consegue porque não quer. Como lidar numa situação dessas?

David, o pai e autor do livro, faz uma proposta ousada. O filho estaria dispensado da escola (sim, DISPENSADO da escola, você não leu errado) se assistisse junto ao pai três filmes por semana (não é muito!) e não se envolvesse com drogas (pedido mais que justo!). O garoto concorda (quem não concordaria?) e eles começam o “Clube do Filme”, que durou três anos. Sim, durante três anos, a única educação que Jesse, o filho, recebeu foram os filmes, e as conversas com o pai sobre os filmes. Mais nada. Loucura? Irresponsabilidade? Não. E lhes explico o porquê.

O grande segredo por trás disso tudo está em apenas uma palavra: tempo. E de qualidade. David, por ser desempregado, tinha tempo de sobra. Mas antes do Clube do Filme, ele não usava esse tempo de forma útil com o filho. Foi assistindo os filmes juntos, e conversando depois sobre as melhores cenas, os diretores, e até mesmo as atrizes mais bonitas, foi que os dois ganharam intimidade um com o outro. E intimidade requer confiança mútua, que só se ganha com o tempo, não na quantidade de tempo, mas sim na qualidade dele.

David deu ao filho algo escasso hoje em dia, e talvez o que precisemos mais: tempo (novamente ele). Penso que talvez seja por isso que temos tantos e tantos adolescentes rebeldes sem causa, deprimidos, criminosos por hobby, mal-educados no sentido literal da palavra. Não lhes deram tempo. Tempo com os pais, com os tios, com os professores. Tempo de qualidade, de conversa jogada fora, de conselhos sem caráter de urgência, de papos sobre assuntos que vierem à cabeça. Os pais estão tão preocupados em dar educação, que se esquecem que a educação é dada vinte e quatro horas por dia, através das nossas ações, das nossas palavras, dos sentimentos que despertamos em nossos filhos, do tempo que passamos junto a eles, e do tempo que estamos ausentes.

Muito mais do que um livro que fala sobre filmes, “O Clube do Filme” é um livro sobre educação, que nos faz repensar nas “formas certas” de educar que temos tão enraizadas em nossas cabeças. Vale a pena ser lido por todos que tem filhos e por aqueles que os desejam (como eu). Não chega nem perto de ser um manual (e nem poderia ser), mas é uma boa lição de amor, respeito (principalmente ao filho) e sabedoria de um pai que queria apenas e exatamente o que todos nós queremos para os nossos filhos: que eles sejam felizes.

sábado, 16 de julho de 2011

Paris França - Gertrude Stein

Não gostei. Pronto, falei.

Comprei o livro com a expectativa lá em cima. Toda essa expectativa baseada na autora, Gertrude Stein, que conheci através do filme do Woody Allen, “Meia noite em Paris”. Ela, uma americana que foi morar em Paris ainda quando pequena, era grande conhecedora das artes, patrocinava pintores como Matisse e Picasso, e realizava o trabalho de revisão de escritores como Hemingway. Daí pensei: “Nossa, um livro dessa mulher deve ser algo assim inacreditável de maravilhoso”. E de fato ela é reconhecida como um gênio literário. Acho que muito gênio mesmo, ao ponto da minha mente limitada não conseguir entendê-la.

Gertrude Stein é considerada a Picasso dos textos. Literalmente. Sua escrita é inspirada no modernismo que ela encontrava nas telas de seus amigos pintores, ou seja, a realidade sendo retratada de várias formas inéditas, a ausência de regras, o simples e complexo ao mesmo tempo. E como ela faz isso? Através de uma escrita quase sem pontuações (não há um ponto de exclamação ou interrogação em todo o texto), onde a autora parece colocar no papel seus pensamentos da forma que eles vêem à cabeça, não se importando com repetições ou frases desconexas. Como se não bastasse, ela também escreve de forma circular. Ou seja, o mesmo assunto é abordado várias vezes durante o livro, em momentos distintos, como se tivesse pipocado novamente na mente da autora, recheando de novo alguns parágrafos, até o momento que algum outro assunto, às vezes sem a menor correlação, surge no pensamento dela e rouba a cena.

Vocês conseguem imaginar a quantidade de vezes que eu reli cada parágrafo para conseguir entender o que ela estava dizendo? Isso quando eu entendia. E quando ela mudava de assunto repentinamente, e eu só descobria dois parágrafos depois? E quando ela escrevia afirmações e perguntas e citações e mais afirmações e mais perguntas na mesma frase, sem nenhuma pontuação para ajudar? E quando ela passava uma, duas, às vezes três páginas inteiras falando exatamente sobre a mesma coisa, repetindo inúmeras vezes o mesmo pensamento? Sinceramente? Me irritei.

Eu gosto da escrita organizada e leve. Gosto do texto tipo “bóia”, sabe? Imagine-se deitado em cima de uma bóia no mar, e a corrente lhe levando. Gosto dos livros que me dão essa sensação, de estar sendo levada, sem esforço físico nem mental. E aí você me diz: “Ah Carol, mas você gostou de Saramago e Ensaio sobre a Cegueira”. E eu respondo: “Sim, gostei, e não é a economia de pontuação nem o assunto complexo que torna o texto difícil de ler. Muito pelo contrário. Saramago conseguiu facilitar a leitura, sendo necessário apenas alguns parágrafos para nos acostumarmos ao seu estilo, e mais nada.” Já com Gertrude, tive a sensação de que sou leiga demais, ou limitada demais, ou ansiosa demais, ou quem sabe tudo isso junto. A bóia furou, e eu tive que nadar contra a corrente, num esforço imenso para conseguir sair do lugar. Cansei.

No mais, o tema central do livro é interessante: Paris, França, os franceses, os estrangeiros, e as relações entre estes quatro elementos. Apesar de muito subjetivo, dá para se ter uma idéia de como era essa interação nas primeiras três décadas do século XX, principalmente o período pré-Segunda Guerra Mundial. É no mínimo curioso perceber como algumas características dessas relações simplesmente desapareceram ao longo dos últimos anos, e outras permaneceram tão intactas e atuais que chegam a assustar.

Enfim, o livro valeu pela experiência, mas acho difícil eu voltar a ler a autora. Mas se você, que é uma pessoa teimosa, quiser se aventurar pelo livro, sinta-se a vontade. Só não diga que não avisei!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Paris é uma Festa - Ernest Hemingway

Estava eu na Livraria da Travessa sexta-feira passada, passeando com os olhos por todos aqueles livros quando me dei de cara com este aqui, “Paris é uma Festa”, de Ernest Hemingway. Eu que vi o filme “Meia Noite em Paris” duas vezes (e veria a terceira, a quarta, a quinta...) não resisti e tive que comprar o livro. Por quê? Bom, veja o filme, ou leia meu post (ver o filme é melhor!) e você saberá do que estou falando.

“Paris é uma Festa” é um relato, às vezes até um pouco jornalístico, de como era a Paris dos anos 20, e principalmente, como era a vida naquela época para escritores como Hemingway. É muito duro acreditar que tanto Hemingway quanto outros escritores, hoje mundialmente famosos, na época chegavam a passar fome e penavam para conseguir publicar seus contos. Fico imaginando como seria se eles tivessem à disposição toda esta facilidade que temos hoje de disseminação de informação (vide este próprio blog!). Será que passariam fome? Será que alcançariam a admiração e o sucesso de forma mais rápida? Ou será que parte de todo este reconhecimento que eles têm hoje é fruto de suas histórias de vida, de terem sido verdadeiros no que faziam e não terem se prostituído pelos caminhos mais fáceis?

Através de pequenos capítulos, Hemingway em seu livro vai pincelando sua vida nos anos 20, com relatos da sua rotina como escritor, das tardes e noites em cafés, bebericando enquanto escrevia ou conversava com amigos, alguns completamente desconhecidos na época (e muito conhecidos atualmente). Algumas histórias são engraçadíssimas, outras escandalosas, outras trágicas, e algumas até românticas, como por exemplo, os relatos da relação de Hemingway e sua primeira esposa, Hadley. Todavia, o que reina no livro é um clima saudosista, gostoso e envolvente, que nos enfeitiça e vai nos revelando um mundo artístico e intelectual porém simples, só possível naquela época e naquele lugar, Paris.

Porém, o mais interessante neste livro é o que está por trás dele. Eu explico. Hemingway o escreveu por volta dos seus 60 anos, após já ter recebido todo o reconhecimento por sua obra, inclusive um prêmio Nobel de literatura. Em 1961, época que este livro estava sendo revisto pelo próprio Hemingway, ele se suicidou com um tiro na boca. O livro foi publicado postumamente, e diferentemente de todos seus outros livros, este mostra um Hemingway sentimental, emotivo e saudoso. Lendo um pouco sua biografia, descobri que toda a sua família sofria de uma doença mental que induzia ao suicídio, tanto que seu pai, uma irmã e um irmão também se suicidaram. Entretanto, eu fico a me perguntar até que ponto este livro, que tenho em mãos, influenciou ou não o escritor nesta decisão tão dolorosa de acabar com a própria vida. Será que as lembranças de um passado, pobre e difícil, porém rico em idealismo e felicidade, e a constatação de um presente onde tudo já fora conquistado fez Hemingway desejar tanto voltar no tempo que, diante da impossibilidade disto, desejou sua própria morte? E a última pergunta, que não quer calar: Será que Woody Allen se inspirou nisso para escrever seu último filme “Meia Noite em Paris”? (se um dia eu tiver 5 minutos com Woody, eu juro que faço a pergunta).

Me resta agora ler outros livros de Hemingway para conhecer um pouco mais desse escritor famoso por sua literatura dura e econômica nas palavras (o que não encontramos em nenhuma parte deste livro tema do post). Mas antes, vocês encontrarão aqui um post sobre outro livrinho encontrado na Travessa, o qual também comprei completamente influenciada pelo filme de Woody Allen. Farei suspense e não direi o nome. Aguardem!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Conto n°2 - Isabela

Seu coração estava vazio. Um vão no meio de seu peito, um buraco negro às avessas, que não sugava nada, apenas expelia. Era o que Clarice sentia. Não havia mais desejo. Seu núcleo havia rompido, numa explosão de nêutrons e prótons, e nada havia restado a não ser poeira. Faltava-lhe sentimento. Amor. Paixão. Faltava-lhe o sal, o molho, a cereja. Faltava-lhe tudo, mas que tudo era esse, que o nada lhe parecia?

Um dia acordou cedo. Sim, cedo para os seus novos padrões. O mundo agora lhe era preto e branco, e o dia, difícil de enfrentar. Às vezes ficava uma, duas, três, quatro horas para conseguir sair da cama. Chegou a pensar em suicídio. E desejou se matar apenas por ter pensado em tal absurdo. O despertador tocava. E ela desligava. E ele tocava, e ela desligava, incessantemente, até a hora que um não agüentava mais o outro e não havia outra escolha a não ser ficar de pé e encarar o seu destino.

Mas naquele dia Clarice havia conseguido se levantar às 10:00h, e portanto tudo que acontecesse daquele dia em diante seria belo, e mágico, e maravilhosamente diferente. Sentia que havia vencido uma batalha, que seus cavalos haviam saído em disparada, que seus guerreiros haviam conquistado terras distantes. Isto tudo porque havia vencido o terrível despertar de um dia sem significados.

Levantou, tomou um banho, se perfumou. Colocou uma roupa bonita. Passou batom. Rímel nos cílios já longos por natureza. Saiu de casa. Para onde iria? São nessas encruzilhadas da vida que podemos passar anos na inércia, numa infinita indecisão entre a direita e a esquerda. Quis voltar. Não se permitiu. Então resolveu ir ao shopping, lugar que sempre detestara, mas que lhe pareceu um lugar com vida. E era isso que Clarice precisava, vida. Qualquer vida era bem-vinda, até aquela das coleções passadas ou das gôndolas de promoções. Tudo era aceitável.

Não se sabe quantas horas passou caminhando naquele shopping. Mas o dia se esvaiu, e já era noite quando se deparou a caminho do carro. O que fizera durante toda aquela tarde? Não se lembrava. Não havia uma memória sequer em seus pensamentos. E ela se esforçou para buscar algum momento marcante, algo que desse sentido àquele passeio. Nada. Foi então que percebeu que não adiantava buscar vida num terreno infértil. É preciso primeiro cuidar do solo. Arar, adubar, regar. E então chorou. Sentada no meio fio, chorou copiosamente, arrancando de sua alma todas aquelas ervas daninhas, e regando seu peito com o único sentimento que lhe havia brotado: pena. De si mesma.

Foi então que um olhar meigo se aproximou. De pé, era um pouquinho mais baixa que Clarice sentada. Seus olhos, numa linha invisível, se encontraram, e a menina perguntou, com a voz de quem há pouco não sabia ainda falar:

- Dodói?

Clarice não sabia o que responder. “Sim, muito dodói”, pensou. Mas como explicar? Como conseguir se esquivar da inevitável próxima pergunta que as crianças, com o coração ainda ingênuo e sincero, sempre fazem?

- Cadê sua mamãe? – perguntou de volta, achando que havia conseguido uma boa saída.

- Mamã dissi qui pá sará dodói, tem qui dá beijim no dodói. Cadê dodói?

Sem conter as lágrimas, ela apontou a testa à menina. Sim, seu dodói estava ali, no meio de todos os seus pensamentos, por dentre todas as suas lembranças, boas e ruins, era ali que sangrava, a sua mente doente. Fechou os olhos, e esperou alguns segundos até sentir a menina lhe beijar a fronte. Abriu os olhos, e a menina lhe perguntou:

- Sarô?

- Muito obrigada – não conseguiu mentir – Mas cadê sua mamãe?

A mãe assistia a tudo de longe, e chamou: “Isabela!”. Foi então que a menina olhou mais uma vez para Clarice, desta vez com olhos de gente grande, e saiu a correr ainda meio desequilibrada em direção a mãe, que a pegou no colo, lhe deu um abraço e lhe falou algo com ternura.

Clarice permaneceu ali por mais alguns minutos. Aos poucos, foi se recompondo, e as lágrimas se escassearam. Lembrou da menina que um dia havia sido, no colo de sua mãe, na vida inteira que ainda tinha pela frente, nas brincadeiras de roda e nos sonhos infantis. Lembrou de como era feliz com pouco, e como o mundo lhe parecia grande demais. Lembrou da escola, dos passeios de bicicleta a tarde e das manhãs que ia para a varanda de casa ver o nascer do sol. Lembrou que sempre gostara de ver o sol nascer, desde muito pequena, muito antes de desejar nunca mais vê-lo.

Algum tempo depois, quando a ferida sarou de fato, Clarice se lembrou da menina que lhe deu amor de graça, e chorou mais uma vez. Gostaria de encontrá-la novamente, lhe dar um beijo na testa e lhe dizer: “sarou”. Mas nunca mais a viu. O tempo passou, e Clarice nunca se esquecera daquela tarde na qual não se lembrava de um momento sequer. E de Isabela.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Hell

Outro dia eu resolvi aproveitar a promoção de um destes sites de compra coletiva e fui assistir à peça Hell, com a Bárbara Paz. Confesso que tinha um preconceito contra a atriz, que ficou mais conhecida por sua participação na Casa dos Artistas (se lembram disso?). Acho engraçado como somos preconceituosos em tantas e tantas coisas, na grande maioria das vezes sem nos darmos conta, e como isto nos priva de experimentar, conhecer, aprender... enfim, viver.

O caso com a Bárbara Paz era puro preconceito. O que me importa o que ela fez ou faz na vida pessoal dela? O que deveria nos importar é apenas o trabalho dela, mais nada. E isso eu não conhecia. Nem na TV, muito menos no teatro. Este preconceito quase me fez desistir da peça. Mas eu pensei: “Ah, se minhas amigas toparem, pelo menos é um programa diferente”! Elas toparam, e eu fui.

Hell é uma jovem parisiense que nasceu numa família da alta sociedade francesa. Com muito dinheiro disponível e nenhum limite, Hell é o retrato da futilidade humana, em seu nível mais extremado. Após anos de indiferença dos pais e algumas decepções amorosas, nada mais lhe era sentimento. A vida havia se resumido em compras, bebida, drogas e sexo. Todos eles em excesso, como forma de tapar os buracos daquilo que lhe faltava: amor.

Quem lê isso acha que Hell era mais um destes estereótipos batidos: menina rica, mimada e completamente alienada do mundo ao seu redor. Grande erro. Hell sabia exatamente o que fazia e porque o fazia. Seu modo de viver era sua forma de protesto, e seu quase suicídio diário era sua forma de dizer ao mundo que pior do que viver na pobreza, é viver no mundo vazio, frio, e detestável que o dinheiro (e só ele) tem o poder de criar.

Bárbara Paz está impecável no papel de Hell. Ela se joga no personagem com a alma. E de forma avassaladora consegue fazer algo que eu julgo muitíssimo difícil, e que merece aplausos de pé: ela nos faz sentir a dor de Hell. Por momentos eu me transportei ao palco, e pude sentir na pele toda a angústia claustrofóbica daquele mundo que Hell vive e que já teria me matado se fosse eu no seu lugar. Palmas para Bárbara. E vaias, muitas vaias, para o preconceito que saiu de fininho do teatro por entre as poltronas e não voltou mais.

Eu gostei e recomendo a todos, mas com duas ressalvas. Primeira: se você é alérgico a cigarro, esquece. Bárbara Paz fuma durante toda a peça, o teatro é pequeno e o cheiro é forte mesmo nas últimas fileiras. Nem se arrisque. Segunda: por ser um drama, daqueles bem pesados, tristes e que te tocam o íntimo, não vá assistir se você está deprimido. Neste caso, prefira uma comédia, e deixe Hell lhe fazer “sofrer” em outro momento. Pois é apenas com o coração livre das nossas amarguras que conseguimos entender por completo o sofrimento do próximo, e aprender com este sofrimento.

Hell está em cartaz no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea) até 31 de julho, de quinta a domingo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meia noite em Paris - Woody Allen

A Paris dos românticos. Com certeza a minha Paris, sendo eu uma romântica incurável. É essa Paris que Woody Allen nos presenteia de forma mágica (no sentido literal da palavra). Como me tocou! Como foi fácil me enxergar ali, no papel de Gil, o protagonista. Ele, que sonhava em morar em Paris, que se via muito mais feliz numa época anterior a nossa, onde tudo era mais devagar, e belo, e apaixonante. Ele, que gosta de caminhar por Paris à noite, que vê beleza na cidade mesmo debaixo de chuva, que na verdade acha que assim, na chuva, Paris é até mais bela! Ele, que, apesar de todas as suas incertezas, largou sua carreira de sucesso para virar escritor (tudo bem, isso eu não fiz ainda, não pelo menos fora dos meus sonhos...).

Gil é um roteirista de Hollywood entediado com sua profissão, não suportando mais inclusive os próprios filmes que escreveu. Muito a contragosto de sua (intragável) noiva, ele resolve fazer aquilo que lhe fará feliz, ou seja, escrever um livro, “escrever de verdade”. Os dois viajam a Paris, encontram um casal de amigos dela por acaso, e daí em diante a história se desenrola numa alternância entre as cenas noturnas, nas quais Gil, através de suas alucinações acredita viajar para o passado, e as cenas diurnas, que retratam o relacionamento nada saudável entre ele e sua noiva. Tudo isso com o humor neurótico característico de Woody Allen, e com uma Paris maravilhosamente completa, com todos os seus encantos e personalidades que fizeram e fazem até hoje Paris ser única e inimitável.

O final do filme não tem nada de surpreendente. Para falar a verdade, é até meio óbvio. Mas é romântico, é puro, é leve, é delicado, e é em Paris, então a gente perdoa. Eu simplesmente amei o filme e recomendo a todos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Estação das Letras

Nada nesta vida é por acaso. E não foi por acaso que eu resolvi, numa segunda-feira, virar a noite escrevendo um conto (está logo aí abaixo, Um beijo por 3 reais). Eu que nunca havia escrito um conto na vida! Nem pequenininho! Não sabia nem por onde começar. E aí vocês me perguntam: “O que deu em você então, Carol?”

Deu que no sábado passado, caí de pára-quedas no curso Vivência Literária, que acontece num lugarzinho no Flamengo chamado Estação das Letras. É um lugar fantástico, cheio de cursos e oficinas de literatura. Descobri o lugar pela internet na sexta, e não tive a menor dúvida: “Amanhã estarei lá!!!”. Então enviei um e-mail perguntando se ainda havia vaga para a “aula” de sábado, e felizmente a resposta foi positiva. A única exigência era que eu levasse um texto em prosa, de no máximo 2 folhas. Eu com meus botões pensei: “Sem problemas... Levo uma das minhas crônicas.. tranqüilo...”.

Foi o que eu fiz. Escolhi "Um dia em São Paulo", que havia feito sucesso num cursinho que eu participei na Casa do Saber. E, no dia seguinte, lá estava eu acordando cedo e atravessando meia cidade para poder estar às 10:00h no Flamengo.

Assim que entrei na sala, o primeiro indício de que eu havia subestimado a “aulinha” apareceu. Um dos “alunos” me perguntou se eu havia tirado cópias. Muito ingenuamente, perguntei: “Cópias, de que?”. E ele respondeu, como se fosse a coisa mais normal do mundo: “Cópias do seu texto, para todos irem lhe acompanhando enquanto você lê”. Pensei: “Caramba, a parada aqui é profissa!” e fui rapidinho tirar as cópias na papelaria ao lado.

Porém, apenas quando eu recebi as cópias dos outros “alunos” foi que entendi o porquê daquilo tudo. Para o meu espanto, os textos eram super elaborados e profundos (alguns inclusive eu ainda não consegui entender, diga-se de passagem). E é por isso que eu estou este post inteiro colocando as palavras “aula” e “alunos” com aspas, porque simplesmente eu me encontrava no meio de escritores (de verdade, não como eu) e jornalistas! Pessoas que trabalham com isso, que tem como profissão escrever!

Imaginem como eu fiquei quando percebi isso, eu e minha cronicazinha. Imaginou alguém bem desesperado procurando um buraco para se esconder? Pois bem, eu não tinha mais como fugir, o jeito era apelar para o sorrisinho, e pensar: “Carolina, ninguém te conhece aqui... Ok, você VAI PASSAR VERGONHA, mas tranqüilo, relaxa, respira fundo, um, dois, um, dois...”

Um a um, os textos iam sendo lidos por seus respectivos autores, e para o meu desespero maior, tanto o coordenador da “aula” quanto os “alunos” comentavam os textos, elogiando as partes boas e criticando as partes ruins, além de corrigirem erros de concordância e sugerirem algumas mudanças. E eu, num esforço psicológico de superação, mentalizava ora “Calma Carolina, vai dar tudo certo”, ora “Por favor, esqueçam de mim... por favor... por favor...”.

Até que chegou a minha vez (não, eles não esqueceram...). E antes de começar a ler, tive que fazer um pronunciamento, numa atitude quase que de sobrevivência: “Gente, como mais nova da turma, eu gostaria de dizer que SOU CAFÉ COM LEITE, TÁ?!”. Nada adiantou. Todos disseram que não tinha essa não, e que era para eu ler meu texto igual a todo mundo. Então eu li, e para a minha surpresa o texto agradou! Recebi elogios!!!! E críticas também, é claro. No final, o coordenador meu passou um desafio: “Carol, não há dúvidas que você escreve muito bem (eu juro que ele falou isso!!!), mas seu texto é uma crônica do início ao fim, e você deve ter percebido que trabalhamos aqui mais com ficção. Então para o nosso próximo encontro, quero que você traga um conto, ok?”. OK!!!!

Entenderam agora o porquê do conto abaixo? Esse foi só o primeiro. Como o próximo encontro é apenas em meados de julho, quero fazer mais alguns para poder escolher o melhor. Mas para isso, preciso que vocês (queridos leitores) COMENTEM OS CONTOS!!! O google analytics está me dizendo que tive vários visitantes, mas ninguém comenta nada! Críticas, críticas e mais críticas são muito bem vindas. E claro, se você quiser elogiar, também póóóóóde.

A Estação das Letras fica na Rua Marquês de Abrantes, 177, loja 107 – Flamengo – Rio de Janeiro - Tel: (21) 3237-3947

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Conto n° 1 - Um beijo por três reais

Era uma festa junina. Ou pelo menos tentaram que fosse. Na verdade, era para ser uma festa comum. Mas como aconteceria bem no mês de junho, decidiram fazer uma fogueira de plástico, colocar umas barraquinhas de brincadeiras, vender canjica e salsichão, e contratar uma banda de forró. Não deu muito certo, e de fato não agradou a muitos, mas Cecília não saberia opinar sobre isso. Se lhe perguntassem, talvez ela nem soubesse que estava numa festa junina.

Sua mente não se encontrava nem na festa, nem na lua, mas em Eduardo, seu ex-namorado. Ou como ela mesma o apelidou, o “falecido”. Foram dois anos de muito investimento na relação, muito amor no coração e muito Rivotril goela abaixo. Eduardo definitivamente não era um namorado fácil. Ciumento ao extremo, exigia de Cecília uma Cecília que ela não era e nem poderia ser. Uma Cecília submissa, anulada, transparente. Ela o amava. Mas amava mais a si mesma. E por isso ela o deixou, de forma repentina e decidida, como se por um milagre tivesse conseguido fugir de uma prisão de segurança máxima. Não fez questão de buscar suas roupas na casa dele nem se despediu de sua família. Muito menos cobrou aquele dinheiro que ele lhe estava devendo. Entre o passado e o presente, apenas uma carta, lhe implorando que a deixasse ir em paz.

As amigas, negligenciadas durante o período do namoro, custaram a acreditar na atitude de Cecília. Mariana achava que ela havia se apaixonado por outro. Teresa tinha quase certeza absoluta que era ele que havia se apaixonado por outra. Alguns palpites mais maldosos diziam que o ciúme de Eduardo havia se tornado violento, a ponto de Cecília dar queixa em delegacia. Cecília negava tudo, mas nada que ela dizia parecia suficientemente convincente. O assunto virou a pauta semanal, e o telefone sem fio criou pelo menos mais cinco novas versões para o rompimento.

Naquela noite da festa, Cecília havia decidido que sairia de seu casulo, enfrentaria seu luto, e buscaria diversão. Qualquer diversão. E foi assim que ela se encontrou na pseudo festa junina, com as amigas negligenciadas, que queriam sua companhia mais pelo desejo fulminante de entender melhor o término, do que pela companhia em si. Cecília sabia disso, mas preferiu ser sonsa a ter que aturar mais uma noite sozinha.

Entre uma barraca e outra de brincadeira, Cecília fingia que se divertia. Conversava muito, apesar de não dizer coisa com coisa, e paquerava muito, apesar de não enxergar nada e ninguém. Cecília era apenas corpo, sua alma estava distante, em mundos habitados pela dúvida e pela solidão. A saudade de Eduardo era maior que a certeza de ter feito a coisa certa. E tudo o que ela desejava era que ele desobedecesse ao pedido explícito na carta, e fosse atrás dela. Ela sonhava com juras de amor eterno e promessas de mudanças, um relacionamento mais maduro, um homem diferente na carcaça de Eduardo. Ela sonhava acordada, num transe absoluto, até que algo ou alguém a trouxesse de volta à realidade fria daquela festa.

Uma destas voltas foi ocasionada por Renato, que num solavanco fez Cecília voltar a si. “Me desculpe, foi sem querer”. Mas ela ainda estava acordando de seu sonho, e por um instante confundiu Renato com Eduardo. Sem dúvida, as semelhanças entre os dois eram evidentes. Morenos, altos, olhos claros, sobrancelhas grossas. O mesmo sorriso. Incrivelmente, o mesmo olhar. Por um instante, a música parou e tudo se tornou inerte. E permaneceu assim até Renato quebrar o silêncio e perguntar:

- Quer um beijo? Custa apenas três reais”.
- O que?
- Sim, três reais, você me parece precisar de um beijo.

Não acreditando no que havia acabado de escutar, Cecília, sem a menor intenção de entender a situação, virou-se de costas e foi atrás de suas amigas. Sua mente confusa lhe fazia perguntas: “Será que já bebi tanto assim? Ele realmente estava me cobrando por um beijo? Ou estou imaginando coisas?” Convenceu-se de que não havia bebido ainda o suficiente, e buscou mais uma cerveja no bar. Ficou na dúvida se contava ou não para suas amigas o que havia acontecido, e buscou mais uma cerveja no bar. Resolveu não contar nada, e buscou mais uma cerveja no bar. Sonhou mais uma vez com Eduardo, e buscou mais uma cerveja no bar. Até que lá pelas tantas, Cecília não tinha mais pernas para buscar nada no bar. Ela estava completamente bêbada.

Sentada no chão, em meio a uma dezena de vultos, Cecília não interessava nem mais às amigas, nem mais a si mesma. Era pura derrota. A saia transpassada mais parecia uma toalha enrolada. A blusa caída pelos ombros. O penteado desfeito. O olhar vazio. As mãos no joelho. A dor enfraquecida pelo álcool. E permaneceu assim por muito tempo, até que algo chamou a atenção de Cecília. Mesmo bêbada, mesmo com um olho aberto e outro fechado, mesmo enxergando tudo triplicado, seu olhar foi fisgado por uma cena inusitada.

Uma fila, apenas mulheres, muitas mulheres. Lá na frente, um homem, apenas um homem. E beijos. Beijos na boca. Cada mulher parecia dar algo para o homem, e em troca ganhava um beijo. E Cecília passou a observar aquilo de longe, sem acreditar, sem conseguir entender seu propósito, sem coragem para perguntar às suas amigas se ela estava imaginando coisas. Tentou, tentou, e na terceira tentativa, conseguiu se levantar.

À medida que se aproximava, Cecília constatava que aquilo era mesmo realidade, até que finalmente leu: “Barraca do beijo. Apenas R$3,00”. Não entendeu. “Barraca... beijo... três... reais...apenas... o que?”. Seu olhar bêbado havia fixado na placa, até que desviou a atenção para a primeira moça da fila que, ansiosa, entregou os 3 reais ao rapaz, colocou uma das mãos no pescoço dele, a outra em seus cabelos e preparou o bote.

Foram segundos, apenas segundos, e lá estava Cecília, entre os dois, disparando nele um belo tapa digno de filme trash, e caindo no chão, como goiaba madura que cai do pé. Não satisfeita, Cecília começou a disparar insultos contra o pobre do Renato, que vendia beijos na barraca de beijos, e que nada entendia o porquê do tapa.

- Cretino! ... Como?... Como?... Alguém te contou?... Que eu estaria aqui... não é? Quem?... Diz quem? Não bastava uma? Eduardo... Porque tantas? ... Eu te amo! – E desmaiou.

Renato tomou Cecília pelos braços e saiu para o ambulatório. Lembrou do solavanco e de Cecília horas antes, na multidão, olhando de forma apaixonada para ele. As outras meninas protestaram, houve quem reclamasse com a direção da festa que o rapaz da barraca de beijo havia abandonado seu posto. Logo arranjaram um substituto para Renato, não tão interessante quanto ele, e pouco a pouco ninguém mais se lembrava da barraca, dos beijos, de Renato, e de Cecília.

Algumas horas depois Cecília acordou, e Renato estava lá. Por um momento, achou que era Eduardo, mas logo percebeu que não, e foi lembrando o que tinha acontecido. Um sentimento de vergonha começava a dominar todo o seu ser, até que de repente:

- Oi, eu não sou o Eduardo. Me chamo Renato, vendo beijos, ganhei um tapa, e você é linda.
- Oi... Me chamo Cecília – Ela sentia suas bochechas queimarem. – Me desculpe pelo tapa. Eduardo é meu ex-namorado, e você é muito parecido com ele.
- Ele é bonito?
- Sim, muito.
- Então o tapa está perdoado. Você vai ficar bem. Suas amigas acham que eu sou o cara que você se apaixonou antes de terminar com seu ex. Quer que eu seja?
- Não sei...
- Bom, não conheço o Eduardo, mas pelo tapa, acho que ele merece isso, não?
- É, pode ser... Mas, se for assim, temos que ter um início. Temos que combinar como nos conhecemos. Concorda?
- É verdade. Que tal você dizer que no meio da multidão, numa festa, a gente se esbarrou, eu lhe ofereci um beijo, e você aceitou?

Todos acreditaram na história. E chegaram a especular por ai que Cecília não sabia do “ofício” de Renato, por isso a surpresa e o tapa. Eduardo quando soube da paixão nova de Cecília, correu atrás dela exatamente como ela havia desejado. Implorou pela volta, prometeu amor eterno, um relacionamento mais maduro, um homem diferente. E fez mais, prometeu se casar com ela, lhe dar conforto, ser pai de seus filhos, ser fiel, ser qualquer coisa que fizesse Cecília voltar para ele. Tudo em vão. O mundo, em seu inevitável movimento, havia completado mais uma volta. Nada mais seria igual.

Cecília havia se apaixonado novamente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Recomeço

Depois de tanto tempo ausente, eu gostaria de ter textos e mais textos guardados na gaveta, apenas esperando para serem postados aqui no blog. Mas advinhem? Não tenho. Por que? Não sei! A grande verdade é que durante todo este tempo eu esqueci de mim, de quem eu sou, do que gosto, do que me faz feliz. E nos poucos momentos que recorri ao papel para "derrubar" ali meu sofrimento, fiz de forma ingênua demais, sentimental demais, deprimida demais, "tudo de ruim" demais.

Mas... achei um poeminha perdido em um dos cadernos que fugiu um pouco à regra. Ele fala exatamente desta minha fase "sem inspiração", mas sem o melodrama típico de novela mexicana. Espero que gostem.


Eu sofro de um problema grave,
que de tão grave eu até gosto de ter.
Trata-se apenas de pouco assunto.
E de pouco assunto estou a morrer.

Porque não vim de família pobre,
nem sofrida foi minha longa infância.
Tive sempre bicicleta nova.
Tive sempre tempo para ser criança.

Mas agora, como eu invejo
o poeta, que de forma doce,
traz nos versos o sorrir incerto
da realidade que melhor não fosse.

E me pergunto, o que faço com ela?
Esta tristeza enorme que me assola o gozo?
Escrevo versos, e me aproveito dela,
e me perco nela,
e me encontro nela,
e sou poeta e feliz de novo.

Saudade

Escrever é o meu passatempo, o meu porto seguro, o meu bem-querer. Se escrevo bem ou mal, o que isso importa? Me faz bem, me faz tão feliz!
Não quero mais ter medo do acaso, do fracasso, das noites sem inspiração, dos surtos de agonia. Quero escrever o mundo, o meu e o seu, o nosso, o de todos nós. Quero escrever o sentimento, a dor e a paixão, e tudo o que nos mantém vivos.
Quero emocionar. Com risos, com lágrimas, com a verdade.
Voltei.