sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meia noite em Paris - Woody Allen

A Paris dos românticos. Com certeza a minha Paris, sendo eu uma romântica incurável. É essa Paris que Woody Allen nos presenteia de forma mágica (no sentido literal da palavra). Como me tocou! Como foi fácil me enxergar ali, no papel de Gil, o protagonista. Ele, que sonhava em morar em Paris, que se via muito mais feliz numa época anterior a nossa, onde tudo era mais devagar, e belo, e apaixonante. Ele, que gosta de caminhar por Paris à noite, que vê beleza na cidade mesmo debaixo de chuva, que na verdade acha que assim, na chuva, Paris é até mais bela! Ele, que, apesar de todas as suas incertezas, largou sua carreira de sucesso para virar escritor (tudo bem, isso eu não fiz ainda, não pelo menos fora dos meus sonhos...).

Gil é um roteirista de Hollywood entediado com sua profissão, não suportando mais inclusive os próprios filmes que escreveu. Muito a contragosto de sua (intragável) noiva, ele resolve fazer aquilo que lhe fará feliz, ou seja, escrever um livro, “escrever de verdade”. Os dois viajam a Paris, encontram um casal de amigos dela por acaso, e daí em diante a história se desenrola numa alternância entre as cenas noturnas, nas quais Gil, através de suas alucinações acredita viajar para o passado, e as cenas diurnas, que retratam o relacionamento nada saudável entre ele e sua noiva. Tudo isso com o humor neurótico característico de Woody Allen, e com uma Paris maravilhosamente completa, com todos os seus encantos e personalidades que fizeram e fazem até hoje Paris ser única e inimitável.

O final do filme não tem nada de surpreendente. Para falar a verdade, é até meio óbvio. Mas é romântico, é puro, é leve, é delicado, e é em Paris, então a gente perdoa. Eu simplesmente amei o filme e recomendo a todos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Estação das Letras

Nada nesta vida é por acaso. E não foi por acaso que eu resolvi, numa segunda-feira, virar a noite escrevendo um conto (está logo aí abaixo, Um beijo por 3 reais). Eu que nunca havia escrito um conto na vida! Nem pequenininho! Não sabia nem por onde começar. E aí vocês me perguntam: “O que deu em você então, Carol?”

Deu que no sábado passado, caí de pára-quedas no curso Vivência Literária, que acontece num lugarzinho no Flamengo chamado Estação das Letras. É um lugar fantástico, cheio de cursos e oficinas de literatura. Descobri o lugar pela internet na sexta, e não tive a menor dúvida: “Amanhã estarei lá!!!”. Então enviei um e-mail perguntando se ainda havia vaga para a “aula” de sábado, e felizmente a resposta foi positiva. A única exigência era que eu levasse um texto em prosa, de no máximo 2 folhas. Eu com meus botões pensei: “Sem problemas... Levo uma das minhas crônicas.. tranqüilo...”.

Foi o que eu fiz. Escolhi "Um dia em São Paulo", que havia feito sucesso num cursinho que eu participei na Casa do Saber. E, no dia seguinte, lá estava eu acordando cedo e atravessando meia cidade para poder estar às 10:00h no Flamengo.

Assim que entrei na sala, o primeiro indício de que eu havia subestimado a “aulinha” apareceu. Um dos “alunos” me perguntou se eu havia tirado cópias. Muito ingenuamente, perguntei: “Cópias, de que?”. E ele respondeu, como se fosse a coisa mais normal do mundo: “Cópias do seu texto, para todos irem lhe acompanhando enquanto você lê”. Pensei: “Caramba, a parada aqui é profissa!” e fui rapidinho tirar as cópias na papelaria ao lado.

Porém, apenas quando eu recebi as cópias dos outros “alunos” foi que entendi o porquê daquilo tudo. Para o meu espanto, os textos eram super elaborados e profundos (alguns inclusive eu ainda não consegui entender, diga-se de passagem). E é por isso que eu estou este post inteiro colocando as palavras “aula” e “alunos” com aspas, porque simplesmente eu me encontrava no meio de escritores (de verdade, não como eu) e jornalistas! Pessoas que trabalham com isso, que tem como profissão escrever!

Imaginem como eu fiquei quando percebi isso, eu e minha cronicazinha. Imaginou alguém bem desesperado procurando um buraco para se esconder? Pois bem, eu não tinha mais como fugir, o jeito era apelar para o sorrisinho, e pensar: “Carolina, ninguém te conhece aqui... Ok, você VAI PASSAR VERGONHA, mas tranqüilo, relaxa, respira fundo, um, dois, um, dois...”

Um a um, os textos iam sendo lidos por seus respectivos autores, e para o meu desespero maior, tanto o coordenador da “aula” quanto os “alunos” comentavam os textos, elogiando as partes boas e criticando as partes ruins, além de corrigirem erros de concordância e sugerirem algumas mudanças. E eu, num esforço psicológico de superação, mentalizava ora “Calma Carolina, vai dar tudo certo”, ora “Por favor, esqueçam de mim... por favor... por favor...”.

Até que chegou a minha vez (não, eles não esqueceram...). E antes de começar a ler, tive que fazer um pronunciamento, numa atitude quase que de sobrevivência: “Gente, como mais nova da turma, eu gostaria de dizer que SOU CAFÉ COM LEITE, TÁ?!”. Nada adiantou. Todos disseram que não tinha essa não, e que era para eu ler meu texto igual a todo mundo. Então eu li, e para a minha surpresa o texto agradou! Recebi elogios!!!! E críticas também, é claro. No final, o coordenador meu passou um desafio: “Carol, não há dúvidas que você escreve muito bem (eu juro que ele falou isso!!!), mas seu texto é uma crônica do início ao fim, e você deve ter percebido que trabalhamos aqui mais com ficção. Então para o nosso próximo encontro, quero que você traga um conto, ok?”. OK!!!!

Entenderam agora o porquê do conto abaixo? Esse foi só o primeiro. Como o próximo encontro é apenas em meados de julho, quero fazer mais alguns para poder escolher o melhor. Mas para isso, preciso que vocês (queridos leitores) COMENTEM OS CONTOS!!! O google analytics está me dizendo que tive vários visitantes, mas ninguém comenta nada! Críticas, críticas e mais críticas são muito bem vindas. E claro, se você quiser elogiar, também póóóóóde.

A Estação das Letras fica na Rua Marquês de Abrantes, 177, loja 107 – Flamengo – Rio de Janeiro - Tel: (21) 3237-3947

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Conto n° 1 - Um beijo por três reais

Era uma festa junina. Ou pelo menos tentaram que fosse. Na verdade, era para ser uma festa comum. Mas como aconteceria bem no mês de junho, decidiram fazer uma fogueira de plástico, colocar umas barraquinhas de brincadeiras, vender canjica e salsichão, e contratar uma banda de forró. Não deu muito certo, e de fato não agradou a muitos, mas Cecília não saberia opinar sobre isso. Se lhe perguntassem, talvez ela nem soubesse que estava numa festa junina.

Sua mente não se encontrava nem na festa, nem na lua, mas em Eduardo, seu ex-namorado. Ou como ela mesma o apelidou, o “falecido”. Foram dois anos de muito investimento na relação, muito amor no coração e muito Rivotril goela abaixo. Eduardo definitivamente não era um namorado fácil. Ciumento ao extremo, exigia de Cecília uma Cecília que ela não era e nem poderia ser. Uma Cecília submissa, anulada, transparente. Ela o amava. Mas amava mais a si mesma. E por isso ela o deixou, de forma repentina e decidida, como se por um milagre tivesse conseguido fugir de uma prisão de segurança máxima. Não fez questão de buscar suas roupas na casa dele nem se despediu de sua família. Muito menos cobrou aquele dinheiro que ele lhe estava devendo. Entre o passado e o presente, apenas uma carta, lhe implorando que a deixasse ir em paz.

As amigas, negligenciadas durante o período do namoro, custaram a acreditar na atitude de Cecília. Mariana achava que ela havia se apaixonado por outro. Teresa tinha quase certeza absoluta que era ele que havia se apaixonado por outra. Alguns palpites mais maldosos diziam que o ciúme de Eduardo havia se tornado violento, a ponto de Cecília dar queixa em delegacia. Cecília negava tudo, mas nada que ela dizia parecia suficientemente convincente. O assunto virou a pauta semanal, e o telefone sem fio criou pelo menos mais cinco novas versões para o rompimento.

Naquela noite da festa, Cecília havia decidido que sairia de seu casulo, enfrentaria seu luto, e buscaria diversão. Qualquer diversão. E foi assim que ela se encontrou na pseudo festa junina, com as amigas negligenciadas, que queriam sua companhia mais pelo desejo fulminante de entender melhor o término, do que pela companhia em si. Cecília sabia disso, mas preferiu ser sonsa a ter que aturar mais uma noite sozinha.

Entre uma barraca e outra de brincadeira, Cecília fingia que se divertia. Conversava muito, apesar de não dizer coisa com coisa, e paquerava muito, apesar de não enxergar nada e ninguém. Cecília era apenas corpo, sua alma estava distante, em mundos habitados pela dúvida e pela solidão. A saudade de Eduardo era maior que a certeza de ter feito a coisa certa. E tudo o que ela desejava era que ele desobedecesse ao pedido explícito na carta, e fosse atrás dela. Ela sonhava com juras de amor eterno e promessas de mudanças, um relacionamento mais maduro, um homem diferente na carcaça de Eduardo. Ela sonhava acordada, num transe absoluto, até que algo ou alguém a trouxesse de volta à realidade fria daquela festa.

Uma destas voltas foi ocasionada por Renato, que num solavanco fez Cecília voltar a si. “Me desculpe, foi sem querer”. Mas ela ainda estava acordando de seu sonho, e por um instante confundiu Renato com Eduardo. Sem dúvida, as semelhanças entre os dois eram evidentes. Morenos, altos, olhos claros, sobrancelhas grossas. O mesmo sorriso. Incrivelmente, o mesmo olhar. Por um instante, a música parou e tudo se tornou inerte. E permaneceu assim até Renato quebrar o silêncio e perguntar:

- Quer um beijo? Custa apenas três reais”.
- O que?
- Sim, três reais, você me parece precisar de um beijo.

Não acreditando no que havia acabado de escutar, Cecília, sem a menor intenção de entender a situação, virou-se de costas e foi atrás de suas amigas. Sua mente confusa lhe fazia perguntas: “Será que já bebi tanto assim? Ele realmente estava me cobrando por um beijo? Ou estou imaginando coisas?” Convenceu-se de que não havia bebido ainda o suficiente, e buscou mais uma cerveja no bar. Ficou na dúvida se contava ou não para suas amigas o que havia acontecido, e buscou mais uma cerveja no bar. Resolveu não contar nada, e buscou mais uma cerveja no bar. Sonhou mais uma vez com Eduardo, e buscou mais uma cerveja no bar. Até que lá pelas tantas, Cecília não tinha mais pernas para buscar nada no bar. Ela estava completamente bêbada.

Sentada no chão, em meio a uma dezena de vultos, Cecília não interessava nem mais às amigas, nem mais a si mesma. Era pura derrota. A saia transpassada mais parecia uma toalha enrolada. A blusa caída pelos ombros. O penteado desfeito. O olhar vazio. As mãos no joelho. A dor enfraquecida pelo álcool. E permaneceu assim por muito tempo, até que algo chamou a atenção de Cecília. Mesmo bêbada, mesmo com um olho aberto e outro fechado, mesmo enxergando tudo triplicado, seu olhar foi fisgado por uma cena inusitada.

Uma fila, apenas mulheres, muitas mulheres. Lá na frente, um homem, apenas um homem. E beijos. Beijos na boca. Cada mulher parecia dar algo para o homem, e em troca ganhava um beijo. E Cecília passou a observar aquilo de longe, sem acreditar, sem conseguir entender seu propósito, sem coragem para perguntar às suas amigas se ela estava imaginando coisas. Tentou, tentou, e na terceira tentativa, conseguiu se levantar.

À medida que se aproximava, Cecília constatava que aquilo era mesmo realidade, até que finalmente leu: “Barraca do beijo. Apenas R$3,00”. Não entendeu. “Barraca... beijo... três... reais...apenas... o que?”. Seu olhar bêbado havia fixado na placa, até que desviou a atenção para a primeira moça da fila que, ansiosa, entregou os 3 reais ao rapaz, colocou uma das mãos no pescoço dele, a outra em seus cabelos e preparou o bote.

Foram segundos, apenas segundos, e lá estava Cecília, entre os dois, disparando nele um belo tapa digno de filme trash, e caindo no chão, como goiaba madura que cai do pé. Não satisfeita, Cecília começou a disparar insultos contra o pobre do Renato, que vendia beijos na barraca de beijos, e que nada entendia o porquê do tapa.

- Cretino! ... Como?... Como?... Alguém te contou?... Que eu estaria aqui... não é? Quem?... Diz quem? Não bastava uma? Eduardo... Porque tantas? ... Eu te amo! – E desmaiou.

Renato tomou Cecília pelos braços e saiu para o ambulatório. Lembrou do solavanco e de Cecília horas antes, na multidão, olhando de forma apaixonada para ele. As outras meninas protestaram, houve quem reclamasse com a direção da festa que o rapaz da barraca de beijo havia abandonado seu posto. Logo arranjaram um substituto para Renato, não tão interessante quanto ele, e pouco a pouco ninguém mais se lembrava da barraca, dos beijos, de Renato, e de Cecília.

Algumas horas depois Cecília acordou, e Renato estava lá. Por um momento, achou que era Eduardo, mas logo percebeu que não, e foi lembrando o que tinha acontecido. Um sentimento de vergonha começava a dominar todo o seu ser, até que de repente:

- Oi, eu não sou o Eduardo. Me chamo Renato, vendo beijos, ganhei um tapa, e você é linda.
- Oi... Me chamo Cecília – Ela sentia suas bochechas queimarem. – Me desculpe pelo tapa. Eduardo é meu ex-namorado, e você é muito parecido com ele.
- Ele é bonito?
- Sim, muito.
- Então o tapa está perdoado. Você vai ficar bem. Suas amigas acham que eu sou o cara que você se apaixonou antes de terminar com seu ex. Quer que eu seja?
- Não sei...
- Bom, não conheço o Eduardo, mas pelo tapa, acho que ele merece isso, não?
- É, pode ser... Mas, se for assim, temos que ter um início. Temos que combinar como nos conhecemos. Concorda?
- É verdade. Que tal você dizer que no meio da multidão, numa festa, a gente se esbarrou, eu lhe ofereci um beijo, e você aceitou?

Todos acreditaram na história. E chegaram a especular por ai que Cecília não sabia do “ofício” de Renato, por isso a surpresa e o tapa. Eduardo quando soube da paixão nova de Cecília, correu atrás dela exatamente como ela havia desejado. Implorou pela volta, prometeu amor eterno, um relacionamento mais maduro, um homem diferente. E fez mais, prometeu se casar com ela, lhe dar conforto, ser pai de seus filhos, ser fiel, ser qualquer coisa que fizesse Cecília voltar para ele. Tudo em vão. O mundo, em seu inevitável movimento, havia completado mais uma volta. Nada mais seria igual.

Cecília havia se apaixonado novamente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Recomeço

Depois de tanto tempo ausente, eu gostaria de ter textos e mais textos guardados na gaveta, apenas esperando para serem postados aqui no blog. Mas advinhem? Não tenho. Por que? Não sei! A grande verdade é que durante todo este tempo eu esqueci de mim, de quem eu sou, do que gosto, do que me faz feliz. E nos poucos momentos que recorri ao papel para "derrubar" ali meu sofrimento, fiz de forma ingênua demais, sentimental demais, deprimida demais, "tudo de ruim" demais.

Mas... achei um poeminha perdido em um dos cadernos que fugiu um pouco à regra. Ele fala exatamente desta minha fase "sem inspiração", mas sem o melodrama típico de novela mexicana. Espero que gostem.


Eu sofro de um problema grave,
que de tão grave eu até gosto de ter.
Trata-se apenas de pouco assunto.
E de pouco assunto estou a morrer.

Porque não vim de família pobre,
nem sofrida foi minha longa infância.
Tive sempre bicicleta nova.
Tive sempre tempo para ser criança.

Mas agora, como eu invejo
o poeta, que de forma doce,
traz nos versos o sorrir incerto
da realidade que melhor não fosse.

E me pergunto, o que faço com ela?
Esta tristeza enorme que me assola o gozo?
Escrevo versos, e me aproveito dela,
e me perco nela,
e me encontro nela,
e sou poeta e feliz de novo.

Saudade

Escrever é o meu passatempo, o meu porto seguro, o meu bem-querer. Se escrevo bem ou mal, o que isso importa? Me faz bem, me faz tão feliz!
Não quero mais ter medo do acaso, do fracasso, das noites sem inspiração, dos surtos de agonia. Quero escrever o mundo, o meu e o seu, o nosso, o de todos nós. Quero escrever o sentimento, a dor e a paixão, e tudo o que nos mantém vivos.
Quero emocionar. Com risos, com lágrimas, com a verdade.
Voltei.