domingo, 14 de fevereiro de 2010

Crônica n°2 - Um dia em São Paulo

Eu ontem fui a São Paulo. Sim, a trabalho. Fácil de adivinhar, não? Me desculpem os paulistanos, mas eu só vejo dois motivos para visitar São Paulo: trabalho, ou conexão. Desta vez foi o primeiro que me fez pousar na pista curta do aeroporto de Congonhas em um dia chuvoso. Medo? Digamos que a eternidade se faz ali presente entre o momento do pouso e a constatação aliviada de que o avião está efetivamente freando. Num movimento involuntário, minhas mãos pressionam a poltrona da frente, e assim permanecem até perceberem que não há mais perigo. Logo em seguida, penso no absurdo desta minha atitude. Como querer parar o avião com as mãos? Peço desculpas ao vizinho da frente, ele não deve merecer o solavanco recebido, e sigo em frente. Afinal, cheguei em São Paulo, está na hora de engrenar a marcha rápida e pensar racionalmente.


Pego um taxi e sigo para a Faria Lima. E por um momento me lembro como é bom morar no Rio e pedir ao taxista: “pela praia, por favor”. Em São Paulo eu não faço a mínima questão de escolher o caminho, e minha única expectativa é que o dito cujo não esteja engarrafado. Pois não importa para onde você vá, com certeza a vista da janela do carro não será de praia, água de côco, bicicletas, muito menos um vôleizinho entre amigos. O caminho será cinza, sem graça, e se Deus quiser, curto.


São Paulo chega a ser engraçado de tão high business technology que tenta ser. Cada vez que chego lá, encontro uma surpresa diferente à minha espera. Desta vez foi com o elevador. Bom, digamos que a carioca aqui penou um bocado para entender que não servia entrar em um dos seis elevadores disponíveis e apertar o botão do andar desejado. Isso porque simplesmente o elevador não tinha botões. Ok, então como faço? Vai me dizer que agora é por telepatia? Enfim, quase me sentindo uma caipira na cidade grande, não tive escolha e perguntei: “Como se faz para pegar o elevador?”. E a paulista que estava ali presente me explicou que eu deveria primeiro indicar na maquineta ao lado de fora do elevador o andar desejado. Assim, ela, a maquineta, calcularia qual elevador seria o melhor indicado para o meu caso, e então eu ficaria ali a espera do meu “prometido”. Praticamente um conto de fadas, eu diria.


O resto do dia correu tranqüilo. A reunião foi ótima, o objetivo foi alcançado, e finalmente eu voltaria para o meu Rio querido. Então eu chamei o taxi, desci para a recepção e, de repente, quase como num filme de terror, um grito agudo tentou escapar da minha garganta. Mas o que saiu mesmo foi um sussurro abafado que disse: “que chuva é essa?”. É claro que Congonhas fechou, e eu me encontrei no aeroporto sem previsão para embarque, com todos os vôos anteriores ao meu já atrasados.


O que aconteceu? Eu não sei se foi o meu jeitinho carioca ou a minha feição de desespero que fez a atendente ser tomada por um sentimento de pena por mim. O fato é que meu vôo estava marcado para as 21:30h, e eu consegui, às 20:40h, fazer o check-in para o vôo das 20:00h. Então feliz e sorridente, e com a informação que os assentos seriam livres, entrei no avião e fui logo procurar uma janelinha no lado direito, que me proporcionasse a vista do litoral do Rio na chegada ao Santos Dumont.


E de fato eu teria tido uma vista linda do litoral do Rio iluminado à noite, se o avião realmente tivesse pousado no Santos Dumont. Pois adivinhem, não foi o que aconteceu. Eu já sabia que havia chovido bastante no Rio também, e que o Santos Dumont havia estado fechado por um tempo. Mas não imaginei que isto fosse obrigar o piloto a mudar, em cima da hora, a rota para o Galeão. Querem saber o pior? Meu carro estava no Santos Dumont. Então quando eu já estava sentindo o sangue subir, lembrei que o dia seguinte seria feriado. E querem saber o melhor? Um feriado exclusivo para cariocas, dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro. Então eu apoiei novamente minha cabeça na poltrona e comecei a fazer meus planos para o dia seguinte: bicicleta, praia, sol, choppinho e picanha no Braseiro...

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