domingo, 15 de novembro de 2009

O Escafandro e a Borboleta - Jean-Dominique Bauby


Tape o seu olho direito com uma das mãos. Agora fique inerte. Não mecha os braços, pernas, boca. Não respire fundo, não mude de posição. Apenas um movimento é permitido: o abrir e fechar do olho esquerdo. É este olho esquerdo a sua única conexão com o mundo exterior. Com ele você olha, se comunica, sobrevive. É através dele que você ainda se sente vivo, mesmo que esteja sim, parcialmente morto.

Permaneça um tempo assim. Consegue? Ok. Quanto tempo? Pois eu, não consegui nem um minuto. Alguns segundos foram suficientes para que um sentimento de afogamento tomasse conta de mim. E olha que não estamos falando aqui de prender a respiração, ou ficar preso dentro de um elevador. Estamos apenas tentando reproduzir o que Jean-Dominique enfrentou por quase um ano e meio.

O quê? Um ano e meio? Com apenas a pálpebra do olho esquerdo? É, isso mesmo. E eu fico na dúvida sobre qual adjetivo dou à "aventura" que acabei de ler. Porque nem "trágico", nem "surpreendente", nem "encorajador", muito menos "emocionante", podem descrever o que este homem, ou sua alma, consegue nos passar através deste livro.

Jean-Dominique era redator-chefe da revista Elle, em Paris, quando aos 43 anos sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou em coma durante 20 dias. Quando voltou, seu sistema motor encontrava-se deteriorado, sobrando apenas a pálpebra esquerda. Literalmente preso dentro de si, Jean-Dominique sofrera o que os médicos chamam de Locked-in Syndrome. Ou seja, a pessoa continua perfeitamente lúcida, mas seu corpo praticamente morre. Em uma prisão sem grades, nada mais é possível sem a ajuda de outros. Ou melhor, quase nada. Porque a mente, de forma quase milagrosa, aos poucos vai libertando Jean-Dominique de seu escafandro. Não que ele tenha retomado os movimentos. Mas sim, dentro de suas viagens imaginárias, ele retomou a liberdade que a vida, das formas mais criativas, consegue nos proporcionar.

O Escafandro e a Borboleta é um relato surpreendente de alguém que perdeu quase tudo, menos a profunda necessidade de viver. Ao final do livro, meio sem reação, me peguei com a seguinte pergunta pairando na minha mente, dela para ela própria: porque não voas mais? Será que é este escafandro que te prendes?

Jean-Dominique escreveu este livro com a ajuda de um sistema criado pela sua ortofonista. Ela criou uma ordem diferente para o alfabeto, das letras mais usadas no idioma francês para as menos usadas. Utilizando seu único instrumento, Jean-Dominique piscava sempre que Claude, sua fiel ajudante, falava a letra certa. Letra por letra, palavra por palavra, frase por frase, este livro foi produzido durante todas as manhãs por dois meses ininterruptos.

Dez dias após a publicação de seu livro, Jean-Dominique faleceu, de pneumonia.

sábado, 14 de novembro de 2009

Culinária experimental - Palitos de pão com ovo

Estou um tanto quanto receosa de começar este assunto aqui no blog, mas vamos lá.

Eu adoro cozinhar. Mas de uns tempos para cá, eu tenho estado bem longe das panelas. De fato, minha cozinha atual não ajuda: ela é mínima, desajeitada, desconfortável. Tudo nela é difícil, tudo cai, tudo está super apertado... Aos poucos, fui cansando de brigar com "ela", e cedi.

Mas isto não continuará assim por muito tempo! Não, eu não vou voltar à luta, apontar para a pia e dizer "sou eu quem mando!". Nada disso. O que está para acontecer é muito melhor. Eu estou me mudando! Sim, para um apartamento maior com, adivinhem, uma cozinha muito maior. E só de pensar nisso eu já fiquei com uma vontade enorme de colocar as mãos na massa. Mas por ora, enquanto a mudança não acontece, me envolvo apenas em pequenas aventuras. É como se fosse um aquecimento para o que está por vir, ou que pelo menos promete vir.

Mas então você me pergunta: e o receio? Receio de quê? Oras, receio dessa história de cozinha pequena ser apenas uma desculpa para não cozinhar mais. E se for? Bom, se isto realmente for verdade, provavelmente eu não irei cozinhar tudo que eu acho que vou na minha cozinha nova, e aí terei aberto um tema aqui no blog meio sem futuro.

Bom, vamos esperar para ver o que acontece, certo?

Por hoje, coloco aqui uma sugestão que tanto serve para o café da manhã quanto para um lanchinho (como este que eu acabei de fazer). Trata-se de um pão com ovo um pouquinho diferente, e mais gostoso.

Você vai precisar de:

- 2 fatias de pão de forma (o tipo de sua preferência);
- 2 ovos;
- 1 colher de sopa de manteiga (ou mais, fique a vontade na manteiga).
- sal a gosto

Encha uma panela pequena com água, coloque os 2 ovos dentro da panela e deixe em fogo alto até levantar fervura. Enquanto isto, corte as fatias de pão de forma em tiras. Derreta a manteiga em uma frigideira e jogue as fatias, mexendo sempre para não queimar o pão.


Quando elas estiverem fritas, separe-as em um prato e veja os ovos. A gema deve ficar mole, então não deixe ferver muito. Eu gosto dela bem molinha, então deixo apenas 20 segundos depois que começou a ferver. Se você não gosta tão molinho assim, é só deixar alguns segundos a mais. Lave os ovos em água fria, para que você consiga pegá-los sem queimar a mão. Abra-os e despeje tudo dentro de uma xícara. Coloque um pouquinho de sal e pronto. Agora é só molhar os palitos amanteigados nos ovos. Uma delícia.

Don Bistrô - Itaipava


O Don Bistrô é um daqueles restaurantes que você vai embora já com vontade de voltar. E eu tive a sorte de um dia conhecê-lo assim, por acaso. Como foi? Bom, era domingo à noite, estávamos com alguns amigos, e não queríamos que o final de semana acabasse assim tão rápido. A solução? Antes de voltar ao Rio, resolvemos parar para comer em algum lugar. Mas aonde? Quem conhece Itaipava sabe que a cidade fica deserta no domingo à noite. Sem muita opção, resolvemos tentar a sorte no shopping Estação, que por ser shopping, deveria ter alguma coisa aberta.

Chegamos lá e logo demos de cara com o Don Bistrô. Depois daquela bisoiada, chegou o momento do: "e aí galera, vamos entrar, parece legal aqui...". Entramos, e fomos muito bem recebidos pelo Marcelo, um senhor muito simpático, dono do estabelecimento. Sentamos na área interna do restaurante, que é pequenininho e coube na medida certa para a gente. Sem cerimônia, meu marido já logo se adiantou:

- Garçom, me vê a carta de vinhos, por favor.
- O Sr. pode levantar e escolher, fique a vontade.

Gostei! O lugar, além de ser restaurante, é também um bar de vinhos. As garrafas estão todas à mostra, como se estivessem em uma loja. Você escolhe pelo rótulo, e pede para abrir. Achou difícil? Marcelo ajuda. A variedade é ótima, e os preços são justos. Vinho escolhido, os pedidos foram feitos e tudo foi simplesmente maravilhoso.

Carol, mas e os detalhes? Bem, isto aconteceu há alguns meses atrás, e neste tempo eu ainda não tinha o blog. Maaaaassssss..... final de semana passado, novamente no domingo, estávamos com o casal de amigos Fábio e Andréa em Itaipava, e a ideia surgiu: vamos jantar antes de voltar ao Rio? Ideia aceita, o Rogério (do Bomtempo, post abaixo) nos sugeriu um italiano chamado Il Perugino. Acatamos a sugestão, mas quando chegamos ao lugar, minha suspeita se confirmou. O restaurante mesmo estava fechado, e aberta estava somente a pizzaria. Como já havíamos comido pizza no Bomtempo, resolvemos tentar a sorte no Clube do Filé, que.... xiiiii, fechado também. Até que, de repente, me veio à cabeça o Don Bistrô:

- Amor, se lembra daquele restaurante que fomos aquela vez? Não me lembro o nome. Num shopping... se lembra?

Bem, eu lembrava que o restaurante ficava no shopping Estação, mas não tinha certeza. Resolvemos arriscar, e graças a Deus, eu acertei. Chegamos, e lá estava Marcelo, pronto para nos receber. E foi nesse momento que adorei o fato dos outros restaurantes estarem fechados.

A varanda

A área interna

A carta de vinhos

O Don Bistrô é um lugar realmente especial. Ambiente aconchegante, comida deliciosa e atendimento pessoal. Tudo que eu provei lá é gostoso, tanto na primeira vez, quanto na segunda. O menu é simples e ao mesmo tempo variado. Para começar, um couvert (delicioso), alguns pasteizinhos e uma sopa de abóbora com gorgonzola que só durou alguns segundos na mesa.

Delícia de couvert: torradinhas com manteiga, patê, azeitonas, salaminho, beringela e abobrinha. Parece simples, mas tudo de ótima qualidade. Difícil parar de comer.

Fábio, em um momento inédito, comendo pastel com a mão. É isso aí Fabinho! O próximo objetivo é o bolinho de bacalhau. Tenho certeza que você vai conseguir!

Era uma vez... uma sopa de abóbora com gorgonzola. Nem para tirar foto a colherzinha parou.

Apesar do restaurante oferecer poucos pratos, a dúvida é cruel em qual pedir, já que todos parecem muito bons. A solução foi apelar para Marcelo, que nos sugeriu o filé com molho de mostarda e batata rostie. Resultado: quatro filés, com algumas pequenas variações (eu pedi com purê de mandioquinha, e o Fábio pediu o dele ao poivre). O único com mais personalidade foi Pedrinho, filho da Andréa, que pediu uma lazanha a bolonhesa muito bem pedida.


O original: filé com molho de mostarda e batata rostie.

A variação: mesmo molho, mas purê de mandioquinha como acompanhamento

Segunda variação: mesmo acompanhamento, mas poivre no lugar do molho de mostarda

A lazanha do Pedrinho, que todo mundo ficou torcendo para sobrar, e o menino comeu tudinho, o que foi realmente impressionante.

Para finalizar, um petit gateau e um sorvete de queijo e goiaba. Melhor impossível. O final de semana não poderia ter terminado melhor.

Petit Gateau. Preciso explicar alguma coisa?

Sorvete de queijo e goiaba. Não sobrou bola sobre bola.

O Don Bistrô fica no Shopping Estação: Estrada União Indústria, 11.000 - Loja 23. Tel: (24) 2222-5157. Mas preste atenção: no dia 2/12/2009, o restaurante será transferido para um novo espaço na Vila Luis Salvador, permanecendo no shopping o bar de vinhos com os petiscos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Bomtempo Resort em Itaipava

Se você quer passar um final de semana na serra, romântico ou com a família, esta dica que eu vou dar é muito boa. Agora, se você gosta de jogar tennis, aí essa dica é simplesmente excelente. Conhece o Bomtempo Resort? Pois é, o lugar é espetacular, o serviço é maravilhoso e o tempo é sempre bom, claro! Como se não bastasse, o resort conta com 4 quadras de saibro (sendo uma coberta), e toda a infraestrutura necessária para os mais aficionados no esporte, como professores, batedores, bar nas quadras, e etc. Depois do tennis, você pode continuar na pilha jogando squash, pádel, futebol, volei, basquete... Ou, se você for parecido comigo, vai correndo aproveitar a piscina do hotel, para depois se esbaldar no ofurô, e por último então relaxar no Spa, inaugurado há pouco tempo. Opção é o que não vai faltar.

À noite, o hotel oferece duas opções: um menu de dar água na boca e uma pizza à lenha que é uma de suas marcas registradas. Minha sugestão é: se você for passar apenas uma noite, peça a pizza e um vinhozinho, você não vai se arrepender. Se for passar mais de uma noite, aí você pode alternar. Mas, preciso lhe advertir: se estiver de dieta, deixe para provar a pizza no último dia, ou você vai passar a estadia inteira no dilema “pizza ou peixe com salada” que convenhamos, só tendo muita força de vontade para ir na segunda opção.

Nas noites de sábado, o resort sempre organiza um showzinho de MPB. Os músicos são sempre ótimos e simpáticos. Então, se você for corajoso que nem a Deise (e tiver uma voz boa e afinada que nem a dela, por favor!), peça para a bandinha lhe deixar tirar uma casquinha, e divirta-se!

Deise soltando o vozeirão!

O Bomtempo é assim. Carão de resort, jeitão de hotel familiar. Uma delícia, do início ao fim. Se tiver oportunidade, conheça o Rogério, o dono do hotel. Ele está sempre por lá, é um poço de simpatia e tem uma memória de elefante. Diz a lenda que ele lembra o nome de todos os hóspedes. Eu acho que é verdade, pois já fiquei sabendo de alguns casos (verídicos!) do tipo:

- Oi Rogério, lembra de mim?
- Claro que lembro! Você é o Jenisvaldo, marido da Valdicreide. Veio aqui em 15 de janeiro de 1999 e trouxe os seus filhos Valdinho e Creidete. Como estão as crianças?
- [silêncio, do tipo: não acredito!]

Encontrando o Rogério, não perca a oportunidade de informá-lo que “ o comeu na noite passada e que estava uma delícia”. Calma, calma, isso aqui não virou um blog pornográfico não, eu explico. Uma das pizzas se chama Rogério, é umas das mais gostosas, e claro, a brincadeira é ótima. Não precisa se preocupar, ele vai entender na hora. Eu já comi o Rogério muitas vezes e lhe digo: foram experiências inesquecíveis! :P

Bom, você passou um tempo ótimo no Bomtempo e definitivamente amou o lugar. Chegou o último dia, e infelizmente as malas tem que ser feitas. A dor da despedida é quase insuportável, você liga para a recepção e num tom de “isto é caso de vida ou morte” pergunta: posso sair um pouco mais tarde? Tudo bem, não precisa arrancar os cabelos ou implorar com voz de choro... Se o hotel não estiver esperando um grupo que vai chegar nas próximas horas, ele vai te dar sim um late check-out. Então, fique tranqüilo para aproveitar os últimos momentos neste paraíso e volte numa próxima oportunidade.

O Bomtempo fica na Estrada da Cachoeira, 400, Santa Mônica - Itaipava - Petrópolis.
Tel: (24) 2222-9922
Website: http://www.bomtemporesort.com.br/

* Informe-se sobre as clínicas de tennis, elas acontecem algumas vezes durante o ano, e atendem tanto a adultos quanto a crianças.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Hora da Estrela – Clarice Lispector

Há um tempo eu venho com uma vontade meio enigmática de ler Clarice Lispector. Como assim enigmática? Porque é um enigma oras. De fato, eu nunca soube muita coisa sobre a escritora (eu sei, isto é uma vergonha, mas nada como ser sincera). Porém, o nome dela, Clarice Lispector, sempre me pareceu interessante. E ter um nome interessante já é meio caminho andado.

Pois então, totalmente ignorante na obra literária em questão, busquei no submarino.com algum livro dela que pela sinopse me interessasse. E gostei deste: “A Hora da Estrela”. Não acho que fiz má escolha (de certo, gostei bastante da historinha, já vou lhes contar), mas lendo a contracapa, descobri que neste livro “Clarice decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade”. Ou seja, justamente neste livro ela resolveu inovar, e claro, continuo sem fazer ideia do que seria esta “inflexão intimista” de Clarice.

Mas vamos ao livro. Em primeiro lugar, Clarice se transforma em Rodrigo, um escritor. E é Rodrigo quem conta a historia de Macabéa, uma nordestina sem graça. Na verdade, a historia toda é criada por Rodrigo, que um dia cruzou com uma nordestina na rua, recebeu a inspiração, e a transformou em Macabéa. Mas não foi uma transformação fácil. Macabéa era por demais insignificante. Sua presença era tão frágil que poucos percebiam a sua existência. Em seu mundo sem horizontes, ela se contentava com uma vida insossa, com um passado ruim, um presente sem propósito, e um futuro impensado. Para Macabéa, talvez a morte lhe servisse melhor que a vida. E assim, da mesma forma que Rodrigo sente o desejo quase insuportável de criar Macabéa, ele começa a ter uma vontade irresistível de destruí-la.

Eu não conheço os outros livros de Clarice, e portanto não sei como seria esta tal de inflexão intimista. Mas uma coisa é certa: Clarice desvendou para nós, através de seu autor fictício chamado Rodrigo, a maior intimidade que um escritor pode ter. Pois não há nada mais íntimo a Rodrigo do que Macabéa. E não há nada mais íntimo a Clarice do que seus personagens, como por exemplo, Rodrigo.

Após ler o livro, fiquei então curiosa para entender como seria este outro lado intimista de Clarice. Talvez isto seja apenas uma deixa para continuar nesta busca pela escritora. Mas se tratando de Clarice Lispector, com esse nome tão interessante, e uma reputação tão gloriosa, eu pergunto: precisa de deixa? É, também acho que não.

Se você faz parte de algum fã clube da escritora, ou simplesmente percebeu que sabe mais sobre ela do que eu (o que não é difícil, convenhamos), deixe sua opinião aqui e me sugira um livro. Dela, é claro!

sábado, 24 de outubro de 2009

Ensaio Sobre a Cegueira - José Saramago


"Em terra de cego, quem tem um olho é rei", diz o dito popular. Será verdade? Então imagine só se, de repente, o mundo inteiro cegasse. Seus pais, filhos, vizinhos, marido, esposa, amigos, inimigos, todos. Políticos, engenheiros, garis, motoristas, aposentados, estão todos cegos. E você? Não, não está cego, muito pelo contrário, é a única pessoa no mundo que enxerga perfeitamente. Mas enxerga o quê?

É esta a questão central do livro de Saramago. Se todos nós cegássemos de repente, como seria? Cegos, nos transformaríamos novamente em crianças, indefesas, a procura de alguém que nos ensine a viver como adultos, ou melhor, como cegos. Mas se todos estão cegos, o que fazer? Se todos se encontram como crianças, como se apoiar em um adulto? Como aprender a andar, comer, viver, se não há ninguém para ensinar? Em pouco tempo, um mundo de cegos se transformaria em um mundo de caos. Ninguém mais trabalharia, a economia pararia, os alimentos se extinguiriam, e o homem não poderia mais contar com tudo aquilo que conta com ele para existir. As ruas seriam lotadas de cegos perdidos, a procura de suas residências, esfomeados por não ter o que comer e não ter olhos para encontrar comida. Alguns cegos morreriam, seja de fome, medo, doença ou acidente, não importa o motivo. Eles não seriam enterrados, pois não há olhos para os enxergarem ali, mortos. Suas presenças seriam sentidas pelo olfato, um cheiro podre, de carne em estado de decomposição, que se misturaria com o cheiro do lixo espalhado pelas ruas, pois não há olhos para enxergarem as lixeiras, recolherem o lixo e transportá-lo a um aterro sanitário. Quase a desfalecerem, alguns cegos, protegidos por suas cegueiras, em um ato de puro espírito de sobrevivência, se alimentariam de cegos mortos, junto aos cães, gatos e outros animais que, igualmente perdidos de seus donos, buscam a morte para se manterem vivos. E no meio de toda esta confusão, você e seus dois olhos, que enxergam.

Dois olhos que enxergam toda a desgraça que a humanidade se resumiu. E mais, que não podem ser descobertos, ou virariam escravos dos cegos sedentos por uma muleta a servir de apoio.

Que grande rei, digníssima majestade você se tornou. Um rei sem reino, sem povo, sem coroa. Um rei que deseja se tornar plebeu, ou melhor, cego. Que deseja não ter olhos para não ver este show de horrores que a vida se tornou. Que não sabe se aguenta o fardo de enxergar por aqueles mais próximos, pessoas de confiança, aos quais decidiu se revelar. Quem dirá então, enxergar por todos, milhares e milhares e milhares que vivem neste reino cego e decadente.

Saramago explora esta contradição de forma magistral. Ele consegue nos mostrar as duas faces, a de quem não enxerga, e a de quem enxerga o que não se quer enxergar. Conforme a história se desenrola, a certeza de que ter olhos é um privilégio vai perdendo força. No final, você não sabe mais se torce para todos voltarem a enxergar, ou se torce para que aqueles únicos olhos sãos enfim encontrem a paz merecida, e descansem no infinito sem formas e sem cores que somente a cegueira, ou a morte, proporcionam.

Mais que um ensaio sobre a cegueira, entendo que este livro é um ensaio sobre tudo que julgamos ser indispensável na vida, e como esta indispensabilidade pode se tornar tão relativa a ponto de o indispensável se transformar justamente na ausência daquilo que julgávamos indispensável. Para tanto, basta que o mundo ao seu redor se transforme, para que você também seja transformado.

José Saramago foi o primeiro escritor da língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de literatura, em 1998. É conhecido pelo seu jeito peculiar de escrita, onde os diálogos se misturam com as orações de forma que o leitor segue um fluxo contínuo de leitura.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Uma viagem diferente

Engraçado eu falar aqui sobre este tema. Mas enfim, me deu vontade de compartilhar com vocês o assunto.

Parece que tudo na vida tem seu momento certo. Ou melhor, quase tudo. Por que quase? Porque há apenas um acontecimento, o qual tenho certeza que quero que aconteça na minha vida, mas não faço a mínima ideia de quando. Adivinhou? Pois é, filhos, que já estão me dando dor de cabeça antes de nascerem.

A pergunta é: será que existe um momento ideal para uma mulher se tornar mãe? Eu venho me perguntando isso há algum tempo. E não é por menos: casada já há 3 anos, vida profissional estável, nenhum problema maior para complicar as coisas... Mas apesar de tudo, não me vem aquela vontade louca de ser mãe. Por quê?

Talvez porque eu seja racional demais. Racional a ponto de pensar que preciso crescer mais profissionalmente, preciso viajar mais, preciso aproveitar mais o meu casamento, preciso poder acordar tarde aos sábados e domingos, preciso poder me desligar do mundo quando bem entender. Traduzindo: preciso ser livre. Mas ai eu pergunto: desde quando filho é sinônimo de prisão? Ou melhor, porque um filho é um impeditivo para todas estas coisas?

Essa questão me veio a tona nestas ultimas semanas. O motivo? Bom, parece que todo mundo resolveu engravidar. Eu conheço pelo menos uns 10 casais grávidos. Mulheres de diferentes idades, diferentes situações, diferentes estilos, ou seja, diferentes MOMENTOS.

Mas o que agravou mesmo a situação foi o fato de uma super ultra mega amiga querida do coração ter engravidado. Há pouco tempo atrás, nós combinávamos: vamos ter nossos filhos juntas! E agora, ela grávida, você me pergunta: vai cumprir a promessa?

A resposta é “provavelmente não”. E digo provavelmente, porque somente Deus sabe quando vou engravidar, e vai que Ele deseje que eu engravide agora? Se for a vontade Dele, será a minha. Mas definitivamente, não é a minha vontade que irá iniciar esse processo.

Enfim, desabafo desabafado, a conclusão que eu chego é a seguinte: não existe momento certo, o que existe é uma vontade certa, vontade de ser mãe, de ter um ser dependente de você, de se privar sim de algumas coisas, e de ganhar outras tantas. Vontade de amar e ser amada, de chamar alguém de filho, e de ser chamada por esse alguém de mãe. É saber que essa pessoa vai te dar trabalho, vai roubar suas noites de sono, vai crescer já se achando um adulto e quem sabe, vai demorar um bocado para reconhecer tudo que você fez por ela. E ainda sim, você vai amá-la, incondicionalmente.

E como vontade não é algo para teorizar, mas sim para sentir, ou você sente, ou não sente. Mas como explicar o que eu sinto? Como explicar que eu já sinto tudo isso, e ao mesmo tempo, pareço não sentir nada? Como dizer “quero” quando não quero, e “não quero”, quando na verdade eu quero?

Enfim, a verdade é que, como tudo na minha vida, preciso que esta vontade que cresce dentro de mim se concretize, e mais, que ultrapasse a barreira da minha racionalidade, quase intransponível. Mas sabe de uma coisa? Isto não é tão ruim assim. Eu tenho tempo, não preciso ter pressa. E o mais importante é o que eu sinto: não uma vontade louca e desesperada de ser mãe, mas sim uma certeza que esta vontade vem crescendo dia após dia. E continuará crescendo, até o dia que ela se transformará em um amor transbordante, resumido ali, em um bebê lindo, que me olhará com olhos de filho, e eu o olharei com olhos de mãe, e assim será, por toda a nossa vida.

sábado, 26 de setembro de 2009

Restaurante Le Vin - Ipanema

Aproveito aqui a abrangência do blog para incluir mais um assunto: gastronomia.

Comer, para mim, é um imenso prazer. Eu adoro experimentar novos restaurantes, novos pratos, culinárias diferentes. Eu só não gosto de restaurante tipo buffet. Mas por que? Porque eu preciso da expectativa. Preciso de um tempo de espera entre o pedido e a chegada da comida. Parece loucura, mas é neste meio tempo que viajo por todos os ingredientes descritos no cardápio e, em secreto, fico brincando com a minha imaginação, tentando descobrir como será a apresentação, os sabores, consistências, texturas... São minutos preciosos, imprescindíveis para que a chegada do prato seja sempre surpreendente. Se a comida chega muito rápida e me priva deste momento maravilhoso de reflexão, eu fico chateada. O chef pode achar que o serviço está maravilhoso porque está rápido, mas se for perguntar a mim, eu direi: porque não demorou um pouco mais?

Bom, vocês já sabem que se um dia encontrarem aqui alguma dica de restaurante buffet, é porque o restaurante é bom mesmo! Mas isto não deve acontecer tão cedo. Enquanto isso, vou colocando aqui os meus restaurantes favoritos.

E o primeiro foi cenário do meu almoço de hoje: o Le Vin. Trata-se de um bistrô, ou seja, um pequeno restaurante francês, com pratos típicos e consagrados da culinária francesa. Traduzindo: moules et frites, escargots, steak tartare, boeuf bourguignon, cassoulet, confit de canard, e por aí vai.


Mas o que me levou lá hoje foram as ostras, deliciosas, fresquinhas, e por um preço em conta (comparado aos outros restaurantes da zona sul que também servem a iguaria).


Após uma dúzia de ostras para cada, foi a vez dos pratos principais. Eu não resisti, e fui no ravioli de confit de canard com molho de laranja que é o meu favorito. O maridão foi no polvo a provençal, que também estava uma delícia. Para acompanhar as ostras e os pratos, um espumante rosé e um bom papo. Enfim, um almoço de sábado perfeito.


O Le Vin fica em Ipanema, na Rua Barão da Torre, 490. Telefone: (21) 3502-1002.

Espero que tenham gostado da dica!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A menina que roubava livros - Markus Zusak


Dos últimos quatro livros que li, três se passavam durante uma guerra. Coincidência? Sim, eu não busquei isso. Não escolhi os títulos pensando neste assunto. Nem ao menos esperava este conteúdo. Mas aconteceu. E isto me faz questionar se hoje em dia é preciso ter certa dose de desgraça nos livros para se alcançar o sucesso. Ler sobre a desgraça alheia não é lá algo super confortável, mas convenhamos, nos prende de forma bem eficiente. Já tentou passar perto de um acidente de trânsito e não olhar? Pois é, o mesmo acontece com os livros. Quando o personagem está lá sofrendo, chorando, morrendo, ou passando aquele sufoco, parece que o livro ganha mais graça, e até aquele soninho que estava vindo meio sorrateiro desiste e aguarda outra parte do livro, menos "interessante", para voltar.

Com o "A Menina que roubava livros" não foi diferente. As partes mais interessantes do livro são as mais tristes. E como a história se passa durante a segunda guerra mundial, o livro está recheado de momentos para lá de sofridos. Porém, assim que terminei de ler, algo dentro de mim não se sentiu totalmente satisfeito. E eu estou tentando entender isto ainda, mas vamos por partes: primeiro, preciso lhes explicar a história.

O personagem central do livro é uma menina, Liesel, que desde muito cedo teve que se separar de sua família para viver na casa de outra família, os Hubbermann. O motivo? Seu pai era comunista e por isto perseguido. Sua mãe, doente, e não tinha como cuidar dos filhos. O jeito foi entregá-los para a adoção. Ou melhor, entregá-la, pois seu irmão não chegou vivo. Porém, o que representou a morte ao irmão, acabou salvando a vida dela. Na casa dos Hubbermann, Liesel descobre no novo pai um amor incondicional, e na nova mãe um amor um tanto quanto estranho, porém verdadeiro. E assim a vida da menina segue, através de uma narrativa rica em detalhes e situações percebidas pela narradora.

E aí chegamos a um ponto crucial: a narradora. Pasmem, quem conta a história é a morte. Sim, ela mesma, com direito a túnica preta e a pensamentos irônicos que ela nos expõe como se fosse a coisa mais normal do mundo: a morte nos falar. Eu não tenho certeza, mas desconfio que grande parte da minha insatisfação se deva à escolha da narradora. Não que esta escolha do escritor não seja criativa, ou inteligente. Não posso negar, ela é ao menos inovadora. Entretanto, é tão surreal que a ficção virou quase um sonho maluco, e não houve capítulo que me convencesse de que a morte estava realmente falando, e que tudo aquilo que ela falava fazia algum sentido. É claro que a história da menina fez todo o sentido. O problema não era o que acontecia com "os vivos", mas sim com a morte, e com os pensamentos e opiniões dela.

Bom, colocando a morte de lado, posso lhes dizer que o livro agradou sim. Liesel, apesar de nos parecer frágil, ao longo da história vai nos orgulhando com sua força e com sua vontade, mesmo que subconsciente, de sobreviver. Aos poucos, a menina vai encontrando nos livros (que ganha e que rouba) um sentido para a sua vida e dos que estão ao seu redor. E ao mesmo tempo em que uma guerra corre do lado de fora, a guerra de Liesel vai se arrastando dentro dela, através de seus sonhos, seus pensamentos, suas atitudes e por último, através de seu próprio livro, no qual ela escreve sua vida.

Enfim, "A menina que roubava livros" é uma história sem um final totalmente surpreendente, mas que surpreende pelas formas mais inesperadas de amor que o livro nos trás. Liesel nos mostra que para amar e ser amado basta estar vivo e procurar este amor nos lugares mais improváveis, como por exemplo num abandono, num acordeão, numa fala ríspida, num livro pintado, num cabelo cor de limão, e claro, até mesmo na morte.

sábado, 19 de setembro de 2009

Andando e voando pelo twitter!

Mas era só o que faltava! Twitter?

Bom, vamos colocar o preconceito de lado e entender o seguinte: o twitter é uma excelente ferramenta de comunicação. Há alguma dúvida quanto a isso? Não. Então, aqui faço aquela pergunta essencial para tudo na vida, inclusive para o twitter: por que não? Ou melhor: o que me impede?

Claro que isto não surgiu dentro de mim a partir do nada, como se de repente eu houvesse desabrochado para os twitters, tweets, e cia. Mas então, como foi que isto aconteceu?

Há algumas semanas atrás, minha amiga Lívia, que sempre me presenteia com feedbacks positivos do blog (obrigada pela força amiga!), me disse:

- Amiga, você TEM QUE colocar o blog no twitter.

E eu:

- ahhhhhhhhhhhhhh.... mas por que? .....
- Porque o twitter vai te ajudar a divulgar o blog!
- Ah é?
- Porque as pessoas vão poder seguir o seu blog!
- Ah é?
- Porque elas também poderão divulgar o seu blog para outras pessoas!
- Ah é? Ahhhh tá....

Lívia, não convencida de que eu estava convencida, me enviou um e-mail explicando tim tim por tim tim tudo o que eu deveria saber sobre esta ferramenta. A argumentação foi boa, e o e-mail conseguiu quebrar um "leve" preconceito que eu tinha a respeito deste assunto. Bom, o resultado disto tudo? tchan tchan tchan tchan...


A página do blog no twitter ainda não está lá "uma brastemp". Falta uma dedicação a mais, e uma resistência a menos. Mas já existe, e você já pode "follow" ela. O que você ganha com isso? Bom, quando eu atualizar o blog aqui, instantaneamente você fica sabendo lá e aí pode vir correndo até aqui para ver as novidades (ok, pode vir andando também, mas não deixe de vir!).

Amiga Lívia, obrigada por estar sempre acrescentando à minha vida :)

PS: Confissões de uma pós-adolescente: não resisti, e estou "seguindo" o Adam Lambert... Bom, pelo menos ele não avisa toda vez que vai ao banheiro. Ufa!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Conexão Paris - o blog e seus mini-guias


Há uns 2 anos atrás, quando eu estava planejando minha primeira viagem à Paris, tudo o que eu queria fazer era ficar horas e horas estudando a cidade. Comprei uns 5 guias, algumas muitas revistas, e claro, fucei a internet como um cão farejador daqueles com o focinho bem grandão. A minha fome por informações sobre Paris era insaciável, quanto mais eu tinha, mais eu queria, e mais eu achava que precisava procurar. E isto não iria acabar nunca, se não fosse eu ter encontrado uma joia rara. Algo que me saciou, e que me alimenta até hoje: o Conexão Paris.

Para quem não conhece, o Conexão Paris é um blog escrito pela Maria Lina, uma historiadora mineira que desde 1983 mora em Paris. Ao longo de todos estes anos ela foi colecionando uma série de informações sobre a cidade, as quais ela repassava para os amigos que chegavam de viagem. Um dia, para a sorte dos seus leitores, Lina resolveu organizar todas estas informações em um blog. Como resultado, o Conexão Paris foi criado e em pouco tempo ganhou milhares de fãs, os quais, por sua vez, ganharam algo que não se encontra em nenhum guia de viagem à venda por aí: a vivência.

Quando descobri o Conexão Paris, fiquei tão eufórica que li o blog todo. Isso mesmo, do início ao fim. Todas as informações que eu queria estavam lá: restaurantes, passeios, atrações, lojas, museus, hospedagem, transportes, e absolutamente tudo o que você possa imaginar. E o melhor de tudo: não precisava comprar, tudo ali estava de graça, disponível para todos os que quisessem desfrutar.

Não preciso dizer que o Conexão Paris foi tudo na minha vida durante os meses de planejamento. Mas o interessante mesmo aconteceu após a viagem. Mesmo não tendo mais que planejar, a primeira coisa que eu fazia todos os dias era entrar no Conexão Paris, ler os novos posts e voar por Paris através deles. Era como um café da manhã, algo que não podia faltar. Se faltasse, logo logo o estômago reclamaria, a dor de cabeça viria, e todo este desconforto não iria passar até o café ser tomado, ou melhor, o blog ser lido.

Até que um dia, já com o blog totalmente inserido na minha rotina diária, resolvi retribuir de alguma forma tudo aquilo que era me dado de presente. Mas como? A minha experiência com Paris era mínima, então não era com conteúdo que eu poderia ajudar. Pensei: de repente com o layout do website? Daí lembrei que não sou nem designer, nem programadora, muito menos tenho jeito para estas coisas. Descartei esta possibilidade quase que imediatamente. Até que, de repente, me veio à tona uma forma concreta de ajudar: com o português!

Bom, o que ocorria: como Lina estava muito tempo fora do Brasil, ela acabava cometendo alguns errinhos bobos de português em seus posts. Era uma letrinha errada ali, uma palavra inventada acolá... Nada que prejudicasse o blog. Mas claro, se alguém fizesse as correções e enviasse o texto já corrigido, ela teria os seus posts à prova dos mais críticos. O que fiz? Enviei um e-mail para ela. Me apresentei, disse que estaria disposta a ajudá-la, e que seria um imenso prazer participar mais ativamente do Conexão. E ela? Disse que adoraria. Pronto, desde então, como ela mesma me chama, sou a editing process do Conexão Paris (muito chique!). Todos os dias (ou quase todos) eu envio as correções para Lina, e após tantos e-mails, acabamos virando amigas. Eu já desabafei para ela, ela já me aconselhou, já reclamamos juntas... enfim, nada como a internet para nos conectar ao mundo e nos presentear com amizades inesperadas e especiais.

E foi assim, através das leituras diárias, correções e e-mails que fui acompanhando a vida do blog no seu dia a dia. Até que certo dia algo de especial aconteceu. Lina me disse que iria lançar uma série de mini-guias de bolso, cada um com um tema diferente, onde ela publicaria informações que estão no blog e algumas outras inéditas. Na mesma hora pensei: será um sucesso! E claro, o resultado não foi diferente. Quando Lina lançou seu primeiro mini-guia, mês passado, foi um alvoroço. A demanda foi enorme, os elogios se multiplicaram, e tenho certeza que minha amiga deve ter ficado para lá de contente. Por tabela, também fiquei em uma felicidade só.

O primeiro guia de Lina apresenta 5 roteiros de passeios por Paris, cada um mostrando uma faceta diferente da cidade luz. O guia é fininho, levinho, perfeito para batermos perna o dia inteiro com ele. Por dentro, é imensamente recheado de informações efetivamente úteis, dicas incríveis e o melhor de tudo, os 27 anos de Lina em Paris, algo que nenhum outro guia pode ao menos sonhar em oferecer aos seus leitores.

O preço do guia é R$17,60, incluindo o frete, e você pode comprá-lo no site do Conexão Paris (http://www.conexaoparis.com.br/). Se você planeja passar uns dias nesta cidade que eu amo, não deixe de adquirir o guia da Lina. Será o melhor investimento da sua viagem. Eu garanto.

sábado, 29 de agosto de 2009

Festival da Pinga – Paraty - Rio de Janeiro


No final de semana passado rolou em Paraty o Festival da Pinga. E adivinha quem estava lá, marcando presença? Pois é, eu mesma. Mas não só eu, também foram mamãe, marido, irmãos e a namorada de um deles. Motivo? Não, não foi pela cachaça. Mas até que a gente gostou da bagunça.

Ok, isso está meio confuso, e eu explico. Meu irmão está indo estudar na Alemanha, vai passar no mínimo 2 anos lá, e a família já está em apuros com a saudade. Para amenizar um pouquinho, resolvemos viajar todos juntos em um final de semana. E logo quando surgiu a ideia, pensamos em Paraty. Pois bem, o Festival da Pinga ia acontecer bem no final de semana escolhido. Destino? Sina? Ou apenas uma boa coincidência?

Obviamente a cidade estava lotada, e não havia lugares disponíveis nas pousadas mais conhecidas. O jeito foi apelar pelo maravilhoso e insuperável Google, que rapidinho apareceu com uma pousada que não constava no guia quatro rodas. Minha mãe ligou para lá e, por sorte, ainda havia duas suites vagas. “Opaaaa! São minhas!!!” Foi o que a minha mãe falou para a telefonista da pousada, na maior animação. E eu fico a imaginar como deve ter sido a reação da telefonista, no outro lado da linha, ao escutar minha mãe dar um grito de euforia por conseguir hospedagem para o Festival da Pinga. Deve ter pensado: essa família gosta!

A pousada foi uma boa surpresa. Super charmosinha, bem decorada, com quartos grandes e confortáveis. O café da manhã no dia seguinte estava bem farto, com vários tipos de bolos e frutas. A pousada ainda conta com uma piscina bem legal e um deck para um rio que passa por trás do local. O único porém é a localização, quase na saída de Paraty, e longe do centro histórico para quem não vai de carro. Apesar disso, eu gostei muito do lugar e por isso indico.


Pousada Águas de Paraty
Rua 1 - Lotm Parque Ipê
Paraty - Rio de Janeiro
Tel: (24) 3371-2085/2618
As fotos foram retiradas do website da pousada

Quem não conhece Paraty não sabe o que está perdendo. O lugar é uma graça e o centro histórico, uma coisa fofa. O comércio é muito turístico, mas você encontra nele um artesanato bem legal. Por exemplo, eu comprei uns patos aqui para casa lindos, grandes, feitos de madeira maciça, super artesanais. Paguei uma pechincha. Aqui no Rio, se eu encontrasse estes patos, eles custariam no mínimo três vezes mais. Tudo bem que eu não tenho lugar em casa para colocar os patos, mas isso é somente um detalhe. Eu me apaixonei por eles, fazer o que?

Eles não são lindos? Coisinhas fofas da mamãe!

Agora, uma pausa para 3 confissões:

1) Eu adoro cachaça;
2) Eu fui tirar um cochilo às oito da noite e só acordei no dia seguinte;
3) Eu fui para o Festival da Pinga e não bebi um gole de pinga.

Pois é, aconteceu. Fiquei tão animada com as lojinhas de artesanato que esqueci a marvada. Andei, andei, andei, e claro, capotei. Estava tão cansada que nada me tirou da cama. No dia seguinte? Mais lojinhas, e a cachaça coitada foi para o ralo. Assim como também foram todas as fotos que eu gostaria de ter tirado do Festival. Vou ficar devendo. Mas entre uma comprinha e outra, consegui tirar estas fotos do centro histórico.

Essa loja era no mínimo interessante. Alguma vez já ficou bêbado só de olhar? Para tudo tem uma primeira vez na vida...

Para compensar esta minha falta de pinga, ou melhor, de fotos, trago aqui uma ótima dica gastronômica. A 20 minutos de Paraty, o restaurante Le Gite d'Indaiatiba não decepciona nem os mais exigentes. Ele é comandado por um francês e uma brasileira, que já moraram na África. Ou seja, culinária francesa abrasileirada com toques africanos. Conseguem imaginar? Enfim, só sei lhes dizer que a comida é simplesmente maravilhosa.

Para chegar ao Le Gite é meio complicado. Pegue a Rodovia Rio Santos sentido Rio de Janeiro, e vire a esquerda no km 558, logo após uma placa indicando “Graúna”. Daí siga toda vida até chegar a um vilarejo com uma igreja da Assembléia de Deus. Então vire a direita e siga pela estrada de terra a esquerda da estrada asfaltada. Continue por mais uns 2 quilômetros, e você encontrará o restaurante. O horário de atendimento é das 13:30h às 20:30h. Programe-se.

A vista do restaurante

O salão interno

Uma das entradas: ceviche de peixe branco com frutas. Sensacional.

Os pratos principais, das esquerda para direita: muqueca de siri catado, beef bourguignon e lulas ao curry caseiro. A mistureba ficou uma delícia. De lamber os beiços.

Le Gite d´Indaiatiba
Rodovia Rio-Santos (BR 101) – km 558
Graúna – Parati
Cel: 024-9999-9923
Tel: 024-3371-7174
contato@legitedindaiatiba.com.br
http://www.legitedindaiatiba.com.br/

E como tudo que é bom acaba rápido, nosso final de semana em família terminou num piscar de olhos. A volta foi longa e cansativa, mas valeu muito a pena. Irmão querido, vou sentir saudades, mas sei que o tempo passa rápido, e logo logo estaremos todos juntos novamente perambulando por aqui. Enquanto isso, não se esqueça de reservar o sofá cama e de conectar o skype. Ah, e também não se esqueça do mais importante: nós te amamos muito!