terça-feira, 22 de setembro de 2009

A menina que roubava livros - Markus Zusak


Dos últimos quatro livros que li, três se passavam durante uma guerra. Coincidência? Sim, eu não busquei isso. Não escolhi os títulos pensando neste assunto. Nem ao menos esperava este conteúdo. Mas aconteceu. E isto me faz questionar se hoje em dia é preciso ter certa dose de desgraça nos livros para se alcançar o sucesso. Ler sobre a desgraça alheia não é lá algo super confortável, mas convenhamos, nos prende de forma bem eficiente. Já tentou passar perto de um acidente de trânsito e não olhar? Pois é, o mesmo acontece com os livros. Quando o personagem está lá sofrendo, chorando, morrendo, ou passando aquele sufoco, parece que o livro ganha mais graça, e até aquele soninho que estava vindo meio sorrateiro desiste e aguarda outra parte do livro, menos "interessante", para voltar.

Com o "A Menina que roubava livros" não foi diferente. As partes mais interessantes do livro são as mais tristes. E como a história se passa durante a segunda guerra mundial, o livro está recheado de momentos para lá de sofridos. Porém, assim que terminei de ler, algo dentro de mim não se sentiu totalmente satisfeito. E eu estou tentando entender isto ainda, mas vamos por partes: primeiro, preciso lhes explicar a história.

O personagem central do livro é uma menina, Liesel, que desde muito cedo teve que se separar de sua família para viver na casa de outra família, os Hubbermann. O motivo? Seu pai era comunista e por isto perseguido. Sua mãe, doente, e não tinha como cuidar dos filhos. O jeito foi entregá-los para a adoção. Ou melhor, entregá-la, pois seu irmão não chegou vivo. Porém, o que representou a morte ao irmão, acabou salvando a vida dela. Na casa dos Hubbermann, Liesel descobre no novo pai um amor incondicional, e na nova mãe um amor um tanto quanto estranho, porém verdadeiro. E assim a vida da menina segue, através de uma narrativa rica em detalhes e situações percebidas pela narradora.

E aí chegamos a um ponto crucial: a narradora. Pasmem, quem conta a história é a morte. Sim, ela mesma, com direito a túnica preta e a pensamentos irônicos que ela nos expõe como se fosse a coisa mais normal do mundo: a morte nos falar. Eu não tenho certeza, mas desconfio que grande parte da minha insatisfação se deva à escolha da narradora. Não que esta escolha do escritor não seja criativa, ou inteligente. Não posso negar, ela é ao menos inovadora. Entretanto, é tão surreal que a ficção virou quase um sonho maluco, e não houve capítulo que me convencesse de que a morte estava realmente falando, e que tudo aquilo que ela falava fazia algum sentido. É claro que a história da menina fez todo o sentido. O problema não era o que acontecia com "os vivos", mas sim com a morte, e com os pensamentos e opiniões dela.

Bom, colocando a morte de lado, posso lhes dizer que o livro agradou sim. Liesel, apesar de nos parecer frágil, ao longo da história vai nos orgulhando com sua força e com sua vontade, mesmo que subconsciente, de sobreviver. Aos poucos, a menina vai encontrando nos livros (que ganha e que rouba) um sentido para a sua vida e dos que estão ao seu redor. E ao mesmo tempo em que uma guerra corre do lado de fora, a guerra de Liesel vai se arrastando dentro dela, através de seus sonhos, seus pensamentos, suas atitudes e por último, através de seu próprio livro, no qual ela escreve sua vida.

Enfim, "A menina que roubava livros" é uma história sem um final totalmente surpreendente, mas que surpreende pelas formas mais inesperadas de amor que o livro nos trás. Liesel nos mostra que para amar e ser amado basta estar vivo e procurar este amor nos lugares mais improváveis, como por exemplo num abandono, num acordeão, numa fala ríspida, num livro pintado, num cabelo cor de limão, e claro, até mesmo na morte.

3 comentários:

  1. Ótimo texto Carol!

    Estou lendo esse livro também e estou gostando bastante. Terei apenas que discordar de você em um ponto: adoro a Morte como narradora da história. E não só porque acho que ela foi uma escolha muito inusitada e inteligente do autor, mas porque ao contrário de você, nos trechos em que a morte está narrando, fico sim convencida de que é realmente ela que está passando sua impressão. Até porque essa ironia lhe cai muito bem.

    Além disso, achei muito feliz a opção do autor de transmitir os sentimentos por cores e "texturas" perceptíveis no céu.

    Beijo grande!!! :-)

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  2. Oi amiga!!!!
    Pois é... tenho certeza que não só você, mas muitos e muitos adoraram essa história da morte como narradora. E eu compreendo, porém não consigo trazer isso para mim.
    Sei que esta insatisfação que me referi é algo particular meu, e por isso recomendo o livro, que já vale a pena pela história em si.
    Bjossssssss

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  3. Eu sou um tanto quanto suspeita né?! Te recomendei super esse livro, mas pra mim ele foi suficiente, e deixou muita saudade quando acabou. Me apaixonei pela descriçoes de tudo, de forma super inusitada e que fazia minha imaginaçao viajar.
    Vamos tentar um livro sem ser sobre guerra next time né?! rs

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