quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Novo blog no ar!


A autora deste blog tomou chá de sumiço! Sim, tomei, e vou lhes dizer o motivo: falta de tempo. E olha que não estou trabalhando desde junho! "ENTÃO COMO VOCÊ NÃO TEM TEMPO?" você me pergunta, em letras garrafais mesmo porque é no susto. Pois é, também não sei. O fato é que o tempo voa (muito mais do que eu), e passa numa velocidade tal que quando eu pisco o olho, ops, acabou o dia. E dia após dia isso piora, a ponto de eu começar a me estressar com esta falta de tempo. Hahaha, parece piada mas não é, eu juro!

Verdade seja dita, acho mesmo é que eu inclui tantas tarefas no meu dia que as horas que eram gastas para o trabalho são hoje utilizadas para outras mil finalidades. A boa notícia? Finalidades muito mais prazerosas. Ok, algumas nem tanto, como a academia, 6 vezes por semana. Mas tudo bem, faz bem para a saúde e os glÚtEos agradecem.

Pois bem, não tem nada que me dê mais prazer do que viajar (e planejar minhas viagens, o que me toma um tempo enoooorme). Nos últimos meses foram muitos os lugares visitados, a ponto de alguns amigos acharem que eu estava fazendo uma volta ao mundo! Calma lá, não foi para tanto. Na verdade eu até que rodei pouco, não sei de onde as pessoas tiraram isso! Basicamente, foram 2 meses nos EUA e 15 dias na Alemanha. Eu sinceramente queria que tivesse sido mais! Muito mais! E foi essa angústia que me fez pensar no próximo destino, o qual estou embarcando dia 10.

Quer saber, quer saber? Não conto, nã nã nã nã nã não!

Mas fico feliz com o seu interesse, de coração :) Tão feliz, que montei um blog para compartilhar as minhas experiências nessa super jornada. Clique aqui e passe lá! Você vai descobrir para onde eu vou, e vai me deixar feliz com a sua visita!

E para os mil fãs do Andar e Voar - minha mãe e meu cachorro (de pelúcia) - não se desesperem! Continuarei postando aqui tudo que não for relacionado a viagem. Se eu tiver tempo! :P

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Peixe ao estilo japonês


Eu amo cozinhar. Sim, passei um tempo longe das panelas, mas de uns 4 meses para cá, não há nada que me dê mais prazer do que comer algo que eu mesma preparei, e que (surpreendentemente!) tenha ficado uma delícia!

Antes tarde do que nunca, começarei a postar aqui as minhas peripécias culinárias. Esse peixinho aí em cima é super fácil de fazer, e ficou de lamber os beiços. A fonte? Sir. Ferran Adrià no seu livro "The Family Meal". Pensando bem, com uma receita vinda deste gênio, era difícil dar errado.

Ingredientes:


- 1 cebola branca pequena (a receita pede 1 chalota, mas é difícil de encontrar. A cebola branca substitui bem);
- 6 raminhos de coentro;
- 1 pedaço de gengibre pequeno;
- molho shoyu;
- óleo de girassol;
- Tempero pronto Hondashi (opcional);
- sal a gosto;
- 2 peixes pequenos inteiros (eu fiz com Pescada, mas você pode usar outros tipos).

Compre o peixe já limpo e lave-o em água corrente para retirar vestígios de sangue. Faça 3 cortes em cada lado do peixe, de cima para baixo (da espinha para a barriga, mas sem chegar a atingir o corte inferior na barriga), com uma distância de mais ou menos 3 dedos entre um corte e outro (essa distância vai depender do tamanho do peixe). Tempere com sal, dentro do peixe e nos cortes. Coloque uma panela funda de água para ferver. Enquanto a água atinge a temperatura de fervura, corte a cebola em meias rodelas, retire as folhinhas de coentro dos talinhos, e corte o gengibre (com casca) em rodelas bem fininhas. Assim que a água ferver, misture o tempero Hondashi (a receita não menciona este tempero, mas eu coloquei e ficou bom) e coloque os peixes para cozinhar por 12 minutos, ou até a carne ficar branca opaca e se desprender fácil das espinhas. Enquanto o peixe cozinha, frite o gengibre no óleo de girassol até ele começar a enrolar. Retire o peixe da água com cuidado para que ele não se desfaça. Jogue a cebola, o coentro e o gengibre frito por cima. Pegue algumas colheres do óleo de girassol ainda fervendo da fritura do gengibre e jogue por cima das cebolas, o que dará o leve fritada nelas. Por último, regue com umas 4 ou 5 colheres de molho shoyu. Está pronto para servir!


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Sonho do Celta – Mario Vargas Llosa

A crueldade humana. Às claras ou de forma velada, com violência ou com preconceito, física ou moral, a crueldade necessita apenas de uma brecha, um ambiente propício para se manifestar. Temos a ingênua impressão que vivemos num mundo civilizado, onde matar, ferir, abusar e escravizar são indiscutivelmente crimes. Mas acabe com as leis e cancele as punições para tais crimes, e veja o que acontece. Viramos bichos. Com uma única diferença para estes últimos: não somos cruéis apenas pelos alimentos, sexo ou território, mas sim também pela ganância, pelo poder, pela cobiça e pelo dinheiro.

Roger Casement, personagem central do livro, era um irlandês nascido numa época que a Irlanda era colônia inglesa. Romântico, Roger acreditava que o colonialismo iria levar civilidade aos povos africanos, como educação, saúde e religião. Quanta ingenuidade. Demorou um tempo até Roger se dar conta, mas a constatação foi inevitável: era melhor para os nativos africanos sua condição anterior de “selvagem”, do que a presença do homem branco, que lhes açoitava, escravizava e arrancava qualquer vestígio de dignidade humana, que mesmo “selvagens” eles possuíam.

A primeira parte do livro conta esta experiência dramática de Roger no Congo, onde, de defensor do colonialismo, ele se tornou o porta-voz das tribos africanas contra a exploração de seu trabalho e a crueldade contra seu povo, denunciando as barbáries e atrocidades cometidas por uma empresa inglesa a qual ele mesmo fora empregado. E num tom quase que sentencioso, o narrador nos revela algo que parece ser a espinha central do livro: “Ele fora humanizado pelo Congo, se é que se tornar humano significa conhecer os extremos a que podem chegar a cobiça, a avareza, os preconceitos, a crueldade. A corrupção moral era isto, sim: algo que não existe entre os animais, uma exclusividade dos humanos. O Congo lhe revelou que essas coisas fazem parte da vida. Abriu seus olhos.”

De fato, Roger nunca mais foi o mesmo. A não ser por uma certa ingenuidade que o perseguiu até os seus últimos dias. Após o Congo, foi cônsul britânico no Brasil, até receber a tenebrosa missão de investigar possíveis crimes cometidos por uma empresa peruana na selva amazônica contra os indígenas. A realidade do Congo se repete no continente americano, o que traz duas conseqüências antagônicas ao nosso personagem: ao mesmo tempo que ele recebe a condecoração de cavalheiro britânico por sua coragem e ousadia em denunciar os abusos aos direitos humanos, Roger se torna cada vez mais partidário da independência da Irlanda, ou seja, inimigo do Reino Unido que colonizava seu país e “explorava” seu povo, o povo de Roger.

O grande trunfo de Mario Vargas Llosa (na minha opinião) foi buscar numa história verídica elementos pessoais de Roger, e transformá-los num romance repleto tanto de fatos históricos quanto de sentimentos, desejos e medos que somente Roger teria a capacidade de nos contar de forma completamente verídica. Ou seja, a história também se transforma em ficção. E isto, num primeiro momento, chegou a me incomodar, pois me senti invasora de uma privacidade meio inventada de um indivíduo que realmente existiu. Mas depois entendi o propósito do autor: através da intimidade (mesmo que parcialmente inventada) de Roger, podemos entender a complexidade da crueldade humana. Não apenas aquela física e sanguinária, mas também a psicológica, aquela que atinge a alma e não o corpo, e que se traduz muitas vezes em preconceito, covardia, vergonha e solidão. Uma crueldade tão violenta quanto a outra, mas que nós insistimos em praticar até os dias de hoje, quase um século após a vida e morte de Roger. E continuaremos, enquanto houver brechas, enquanto houver ambientes propícios, e principalmente, enquanto formos humanos, sem a menor sombra de dúvida.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As Entrevistas da Paris Review

“Uma das coisas mais tristes que existem é que a única coisa que um homem pode fazer durante oito horas por dia, todos os dias, é trabalhar. Você não pode comer oito horas por dia, nem beber oito horas por dia, nem fazer amor por oito horas – você só pode trabalhar por oito horas. E é por essa razão que o homem faz a si mesmo e a todos os outros tão miseráveis e infelizes”.

Quem disse isso foi William Faulkner. Se você não sabe quem é o sujeito – tudo bem, eu também não sabia até uma semana atrás – trata-se de um escritor norte-americano ganhador do Nobel de 1949 e conhecido por utilizar a técnica do fluxo da consciência, aquela que você fala tudo que vem a mente e não usa pontuação alguma e vai assim falando falando coisas as vezes sem nexo que depois descobrimos o sentido e tudo depois se encaixa num movimento natural e a escrita parece que foi muito fácil de ser feita o que é o trunfo deste estilo porque na verdade seus autores penaram bastante penaram muito até para dar esse tom de descaso e profundidade tudo ao mesmo tempo. Entendeu?

Mas o propósito aqui não é falar especificamente sobre Faulkner ou sobre a técnica do fluxo da consciência (da qual sou traumatizada por causa de Gertrude Stein, mas tudo bem). O que quero é lhes apresentar esta maravilhosa coletânea de entrevistas realizadas pela Paris Review, que nos últimos 60 anos vem entrevistando grandes nomes da literatura mundial com Faulkner, Hemingway, Capote, Céline, entre tantos outros.

As entrevistas são realizadas de forma descontraída e buscam não apenas falar sobre a obra do autor, mas também sobre a sua rotina de escritor, seu processo criativo, seus anseios, desafios e até mesmo seus medos. Após ler todas as entrevistas, é bom entender que neste mundo da escrita não há regras. Não importa se você é um leitor ferrenho desde criança, ou se só se interessou pela leitura com mais idade. Tanto faz se você sempre quis ser escritor, ou só se descobriu numa “máquina de escrever” já bem adulto. Cada escritor entrevistado tem sua história, suas manias, suas fontes de inspiração, sua forma de escrever, e claro, seus defeitos como ser humano.

Como aspirante a escritora, sinto que mais do que conhecimento sobre os autores, o que ganhei ao ler este livro foi esperança. Eu explico. A gente tende a achar que algumas profissões só podem ser realizadas por pessoas que já nasceram com elas, ou seja, que tem o dom. Mas o que é o dom? Se a pessoa realiza exatamente aquilo que a sociedade espera como o belo, será que esta pessoa não está imitando algo que já exista? Então seria o dom da imitação? E se a pessoa consegue criar algo completamente diferente e incrivelmente lindo, como será sua vida antes desta sua criação? Em outras palavras, como perceber todo aquele dom em algo ainda não realizado? A verdade é que enquanto não produzimos, não temos dom de nada. Foi assim com todos os escritores entrevistados pela Paris Review, e imagino que seja assim em todas as profissões (artísticas ou não). Ou seja, mãos a obra Carolina! Enquanto você não produzir, não há material a ser avaliado! E se tudo ficar uma porcaria, tudo bem, você tem ao menos o dom de tentar! (entenderam a esperança?)

Eu não poderia deixar de colocar aqui algumas pérolas do livro, como o trecho acima da entrevista de Faulkner. Tenho vontade de colocar um trechinho de cada autor, mas não posso, ou corro o risco de ser processada pela editora! Seguem as que eu achei mais interessantes, ou cômicas, ou simplesmente divertidas... Aproveitem.


Faulkner

Entrevistadora: Algumas pessoas dizem que não conseguem entender o que o senhor escreve, nem mesmo depois de ler duas ou três vezes. O que o senhor poderia lhes sugerir?

Faulkner: Que leiam quatro vezes.


Hemingway

Entrevistador: É fácil para o senhor mudar de um projeto literário para outro, ou o senhor continua até o fim aquilo que começa?

Hemingway: O fato de ter interrompido trabalho sério para responder estas perguntas prova que sou tão burro que deveria ser severamente castigado. E serei, não se preocupe.

***

Entrevistador: Costuma-se dizer que um escritor lida com uma ou duas idéias em toda a sua obra. O senhor diria que sua obra reflete uma ou duas idéias?

Hemingway: Quem disse isso? Soa muito simplório. O homem que fez essa afirmação provavelmente tinha só uma ou duas idéias.


Céline

Entrevistador: Nos seus romances, o amor tem muita importância?

Céline: Nenhuma. Você não precisa dele. Você deve ter modéstia quando é um romancista.

***

Entrevistador: O senhor acha que é ainda um dos maiores escritores vivos?

Céline: Que nada. Os grandes escritores... não tenho que ficar dando voltas com adjetivos. Primeiro você tem que morrer, e quando você estiver morto, aí eles vão classificá-lo. Primeiramente você tem que estar morto.


Paul Auster

“Tendemos a subestimar a inteligência das pessoas da classe trabalhadora deste país. Baseado na minha experiência, acho que a maior parte delas é tão inteligente quando as pessoas que mandam no mundo. Apenas não são tão ambiciosas – só isso. Mas suas conversas são muito mais divertidas.”

***

“Um romance é o único lugar do mundo onde dois estranhos podem se encontrar em absoluta intimidade. Leitor e autor fazem juntos o livro. Nenhuma outra arte é capaz disso.”

***

Entrevistador: Escrever ficção se tornou mais fácil para o senhor ao longo dos anos?

Auster: O fato de já ter escrito livros antes parece não ter nenhuma importância. Sempre me sinto como um iniciante, atravessando as mesmas dificuldades, os mesmos bloqueios, o mesmo desespero. A gente comete tantos erros como escritor, risca tantas frases e idéias ruins, descarta tantas páginas imprestáveis que acaba descobrindo, apenas, que é um idiota. É um trabalho humilhante.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crônica 3 - Eu canceriana

Ultimamente eu venho lendo o horóscopo. Sim, e digo isso num tom de confissão. Sempre fui avessa a essas coisas, não acredito em astrologia, numerologia, muito menos em duende. O conceito é simples: se os astros direcionam minha vida, porque os buracos negros, ou as espaçonaves extra-terrestres também não têm esse direito? Estão todos lá, no espaço sideral, brigando por um destino aqui, um amor não correspondido acolá... Enfim, pensar que Saturno, por estar numa posição tal em relação a Netuno, faça alguma diferença na minha vida, simplesmente não entra na minha cabeça. Mas então, “por que cargas d’água venho lendo o horóscopo?”, você me pergunta.

Ora, eu abro o jornal, Segundo Caderno, e vou olhando as reportagens, matérias sobre livros, filmes, eventos culturais, tudo muito interessante. Até que, de repente, caio na página de tirinhas, palavras cruzadas, e ele, o horóscopo. Nãohácomonãoler. Quase como uma força gravitacional (os astros me entenderão!) meus olhos são atraídos por aqueles textinhos organizadinhos com uns simbolozinhos tão bunitinhos. Uma coisa fofa. Eu tento não ler (juro juro juro), resistir ao incontrolável impulso. Mas sou traída pelo meu próprio signo, câncer, cuja “modalidade” é justamente “impulsivo”. Leio, e já estava tudo escrito nos céus.

Porém, hoje, os astros me pregaram uma peça. Da-na-di-nhos. Vejam só o que eles me disseram: “A sensação de liberdade e a possibilidade de novas experiências nos tornam mais seguros de nossas emoções”. Estaria tudo bem, se tivessem parado por aí. Sim, concordo, é sabendo que podemos conquistar o mundo que nos permitimos pensar em qual lugar desbravar primeiro. Faz sentido. Mas aí veio a segunda parte, em negrito, num preto saltitante aos olhos: “É tempo de se livrar dos padrões antigos e optar por expressar as emoções de forma completamente diferente do habitual”. Choquei.

Fiquei a imaginar o que seriam padrões antigos. Cartas? Telegramas? Faxes? Afinal, estamos falando da forma, e não do conteúdo. Será que facebook já é antigo? Novo mesmo é o Google+. O que dirão então do e-mail, se não um método arcaico de comunicação? E do Messenger, coitado? Esse aí ganha apenas novas roupagens (bbm, whats app...), mas não deixa de já ser um senhor de meia idade, tentando parecer “garotinho surfista descolado moderninho”.

O horóscopo foi claro, nada de padrões antigos (se livre deles!), mas o que agrava mesmo a situação é o mandamento de que devo expressar meus sentimentos mais íntimos e secretos (que como boa canceriana, tenho aos montes, ou deveria ter) de forma COMPLETAMENTE diferente. Que desespero. Pensei em escrever numa faixa que estou com raiva dos flamenguistas que (mais uma vez) fizeram bonito no campo, e colocar no rabo de um avião daqueles que passam na praia, sabe? Mas achei que isso fosse padrão antigo. Depois pensei: antigo para quem? Para mim não é, nunca fiz! Ok ok, acho que nunca farei também, too much for me.

Quem sabe então se eu pendurasse uma faixa na minha varanda? Ou pagasse por um espaço publicitário no jornal? Ou mandasse um vídeo para o Fantástico? Ou quem sabe, tatuasse no meu corpo: “hoje me sinto saudosa, porém confiante”. Será que Júpiter ficaria feliz com minha obediência? Se vocês virem a lua pulando por aí, é a minha regente expressando (da forma dela) toda a felicidade por ter contribuído de maneira sobrenatural (no sentido místico mesmo) com a minha existência. Vou parar por aqui, ou vocês começarão a achar que andei utilizando certos alucinógenos, daqueles que transformam anões de jardim em duendes. Olha os duendes aí! E quem disse que eles não existem?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Clube do Filme - David Gilmour

Você, que não tem filhos, já parou para pensar o quanto deve ser duro educá-los? Vejo alguns amigos meus com filhos e, ao mesmo tempo em que acho tudo lindo e maravilhoso, também penso: “Meu Deus, que responsabilidade enoooorme!”. Aquele pequeno ser humano que hoje é apenas um “pingo de gente”, como minha mãe diz, amanhã será um adulto, com seus próprios valores e princípios. E aí eu me pergunto: “Será que existe uma forma certa de educar? Alguma fórmula mágica? Algum manual de instruções?”. E a resposta é óbvia e desoladora: “Claro que não”.

Porque estou falando sobre isso? Por que é exatamente sobre isso que este livro trata. O pai, um crítico de cinema desempregado, se vê diante de uma situação trágica: seu filho adolescente detesta a escola e está a beira da reprovação em todas as matérias. O pai tenta ajudar como pode, conversando, incentivando, auxiliando o filho nas lições de casa. Mas nada dá certo. O garoto não consegue, simplesmente não consegue. E não consegue porque não quer. Como lidar numa situação dessas?

David, o pai e autor do livro, faz uma proposta ousada. O filho estaria dispensado da escola (sim, DISPENSADO da escola, você não leu errado) se assistisse junto ao pai três filmes por semana (não é muito!) e não se envolvesse com drogas (pedido mais que justo!). O garoto concorda (quem não concordaria?) e eles começam o “Clube do Filme”, que durou três anos. Sim, durante três anos, a única educação que Jesse, o filho, recebeu foram os filmes, e as conversas com o pai sobre os filmes. Mais nada. Loucura? Irresponsabilidade? Não. E lhes explico o porquê.

O grande segredo por trás disso tudo está em apenas uma palavra: tempo. E de qualidade. David, por ser desempregado, tinha tempo de sobra. Mas antes do Clube do Filme, ele não usava esse tempo de forma útil com o filho. Foi assistindo os filmes juntos, e conversando depois sobre as melhores cenas, os diretores, e até mesmo as atrizes mais bonitas, foi que os dois ganharam intimidade um com o outro. E intimidade requer confiança mútua, que só se ganha com o tempo, não na quantidade de tempo, mas sim na qualidade dele.

David deu ao filho algo escasso hoje em dia, e talvez o que precisemos mais: tempo (novamente ele). Penso que talvez seja por isso que temos tantos e tantos adolescentes rebeldes sem causa, deprimidos, criminosos por hobby, mal-educados no sentido literal da palavra. Não lhes deram tempo. Tempo com os pais, com os tios, com os professores. Tempo de qualidade, de conversa jogada fora, de conselhos sem caráter de urgência, de papos sobre assuntos que vierem à cabeça. Os pais estão tão preocupados em dar educação, que se esquecem que a educação é dada vinte e quatro horas por dia, através das nossas ações, das nossas palavras, dos sentimentos que despertamos em nossos filhos, do tempo que passamos junto a eles, e do tempo que estamos ausentes.

Muito mais do que um livro que fala sobre filmes, “O Clube do Filme” é um livro sobre educação, que nos faz repensar nas “formas certas” de educar que temos tão enraizadas em nossas cabeças. Vale a pena ser lido por todos que tem filhos e por aqueles que os desejam (como eu). Não chega nem perto de ser um manual (e nem poderia ser), mas é uma boa lição de amor, respeito (principalmente ao filho) e sabedoria de um pai que queria apenas e exatamente o que todos nós queremos para os nossos filhos: que eles sejam felizes.

sábado, 16 de julho de 2011

Paris França - Gertrude Stein

Não gostei. Pronto, falei.

Comprei o livro com a expectativa lá em cima. Toda essa expectativa baseada na autora, Gertrude Stein, que conheci através do filme do Woody Allen, “Meia noite em Paris”. Ela, uma americana que foi morar em Paris ainda quando pequena, era grande conhecedora das artes, patrocinava pintores como Matisse e Picasso, e realizava o trabalho de revisão de escritores como Hemingway. Daí pensei: “Nossa, um livro dessa mulher deve ser algo assim inacreditável de maravilhoso”. E de fato ela é reconhecida como um gênio literário. Acho que muito gênio mesmo, ao ponto da minha mente limitada não conseguir entendê-la.

Gertrude Stein é considerada a Picasso dos textos. Literalmente. Sua escrita é inspirada no modernismo que ela encontrava nas telas de seus amigos pintores, ou seja, a realidade sendo retratada de várias formas inéditas, a ausência de regras, o simples e complexo ao mesmo tempo. E como ela faz isso? Através de uma escrita quase sem pontuações (não há um ponto de exclamação ou interrogação em todo o texto), onde a autora parece colocar no papel seus pensamentos da forma que eles vêem à cabeça, não se importando com repetições ou frases desconexas. Como se não bastasse, ela também escreve de forma circular. Ou seja, o mesmo assunto é abordado várias vezes durante o livro, em momentos distintos, como se tivesse pipocado novamente na mente da autora, recheando de novo alguns parágrafos, até o momento que algum outro assunto, às vezes sem a menor correlação, surge no pensamento dela e rouba a cena.

Vocês conseguem imaginar a quantidade de vezes que eu reli cada parágrafo para conseguir entender o que ela estava dizendo? Isso quando eu entendia. E quando ela mudava de assunto repentinamente, e eu só descobria dois parágrafos depois? E quando ela escrevia afirmações e perguntas e citações e mais afirmações e mais perguntas na mesma frase, sem nenhuma pontuação para ajudar? E quando ela passava uma, duas, às vezes três páginas inteiras falando exatamente sobre a mesma coisa, repetindo inúmeras vezes o mesmo pensamento? Sinceramente? Me irritei.

Eu gosto da escrita organizada e leve. Gosto do texto tipo “bóia”, sabe? Imagine-se deitado em cima de uma bóia no mar, e a corrente lhe levando. Gosto dos livros que me dão essa sensação, de estar sendo levada, sem esforço físico nem mental. E aí você me diz: “Ah Carol, mas você gostou de Saramago e Ensaio sobre a Cegueira”. E eu respondo: “Sim, gostei, e não é a economia de pontuação nem o assunto complexo que torna o texto difícil de ler. Muito pelo contrário. Saramago conseguiu facilitar a leitura, sendo necessário apenas alguns parágrafos para nos acostumarmos ao seu estilo, e mais nada.” Já com Gertrude, tive a sensação de que sou leiga demais, ou limitada demais, ou ansiosa demais, ou quem sabe tudo isso junto. A bóia furou, e eu tive que nadar contra a corrente, num esforço imenso para conseguir sair do lugar. Cansei.

No mais, o tema central do livro é interessante: Paris, França, os franceses, os estrangeiros, e as relações entre estes quatro elementos. Apesar de muito subjetivo, dá para se ter uma idéia de como era essa interação nas primeiras três décadas do século XX, principalmente o período pré-Segunda Guerra Mundial. É no mínimo curioso perceber como algumas características dessas relações simplesmente desapareceram ao longo dos últimos anos, e outras permaneceram tão intactas e atuais que chegam a assustar.

Enfim, o livro valeu pela experiência, mas acho difícil eu voltar a ler a autora. Mas se você, que é uma pessoa teimosa, quiser se aventurar pelo livro, sinta-se a vontade. Só não diga que não avisei!