segunda-feira, 4 de julho de 2011

Hell

Outro dia eu resolvi aproveitar a promoção de um destes sites de compra coletiva e fui assistir à peça Hell, com a Bárbara Paz. Confesso que tinha um preconceito contra a atriz, que ficou mais conhecida por sua participação na Casa dos Artistas (se lembram disso?). Acho engraçado como somos preconceituosos em tantas e tantas coisas, na grande maioria das vezes sem nos darmos conta, e como isto nos priva de experimentar, conhecer, aprender... enfim, viver.

O caso com a Bárbara Paz era puro preconceito. O que me importa o que ela fez ou faz na vida pessoal dela? O que deveria nos importar é apenas o trabalho dela, mais nada. E isso eu não conhecia. Nem na TV, muito menos no teatro. Este preconceito quase me fez desistir da peça. Mas eu pensei: “Ah, se minhas amigas toparem, pelo menos é um programa diferente”! Elas toparam, e eu fui.

Hell é uma jovem parisiense que nasceu numa família da alta sociedade francesa. Com muito dinheiro disponível e nenhum limite, Hell é o retrato da futilidade humana, em seu nível mais extremado. Após anos de indiferença dos pais e algumas decepções amorosas, nada mais lhe era sentimento. A vida havia se resumido em compras, bebida, drogas e sexo. Todos eles em excesso, como forma de tapar os buracos daquilo que lhe faltava: amor.

Quem lê isso acha que Hell era mais um destes estereótipos batidos: menina rica, mimada e completamente alienada do mundo ao seu redor. Grande erro. Hell sabia exatamente o que fazia e porque o fazia. Seu modo de viver era sua forma de protesto, e seu quase suicídio diário era sua forma de dizer ao mundo que pior do que viver na pobreza, é viver no mundo vazio, frio, e detestável que o dinheiro (e só ele) tem o poder de criar.

Bárbara Paz está impecável no papel de Hell. Ela se joga no personagem com a alma. E de forma avassaladora consegue fazer algo que eu julgo muitíssimo difícil, e que merece aplausos de pé: ela nos faz sentir a dor de Hell. Por momentos eu me transportei ao palco, e pude sentir na pele toda a angústia claustrofóbica daquele mundo que Hell vive e que já teria me matado se fosse eu no seu lugar. Palmas para Bárbara. E vaias, muitas vaias, para o preconceito que saiu de fininho do teatro por entre as poltronas e não voltou mais.

Eu gostei e recomendo a todos, mas com duas ressalvas. Primeira: se você é alérgico a cigarro, esquece. Bárbara Paz fuma durante toda a peça, o teatro é pequeno e o cheiro é forte mesmo nas últimas fileiras. Nem se arrisque. Segunda: por ser um drama, daqueles bem pesados, tristes e que te tocam o íntimo, não vá assistir se você está deprimido. Neste caso, prefira uma comédia, e deixe Hell lhe fazer “sofrer” em outro momento. Pois é apenas com o coração livre das nossas amarguras que conseguimos entender por completo o sofrimento do próximo, e aprender com este sofrimento.

Hell está em cartaz no Teatro dos Quatro (Shopping da Gávea) até 31 de julho, de quinta a domingo.

2 comentários:

  1. Excelente texto Carol! Fiquei até com vontade de assistir, pq minha percepção acerca da atriz era a mesma que a sua. Bjão pra vc.

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