sábado, 23 de janeiro de 2010

Crônica n° 1 - A Barata

Era uma noite tranqüila de sexta. As ruas da zona sul do Rio molhadas pela chuva, os restaurantes com suas mesas na calçada úmida, as pessoas conversando alegremente, de papo para o ar, sem hora, sem pressa, e se pudessem, sem roupas. Sim, já que o verão este ano tem transformado o Rio em quase uma Amazônia do sul, com muito sol durante o dia, chuva forte ao cair da tarde, calor todas as 24 horas, e a rejeição quase que completa por todo e qualquer tipo de vestimenta que cubra mais que o necessário.

E claro, como uma boa carioca, lá estava eu com meu marido, um casal de amigos queridos, um restaurante na zona sul, uma mesa na calçada. Ao nosso redor, mais umas três ou quatro mesas, e muitas conversas jogadas fora. Assuntos diversos, como o calor, a novela, o big brother. Quando de repente, o pavor toma conta do ambiente. Não, não era um ataque terrorista, nem terremoto, muito menos o pessoal da Lei Seca montando posição bem em frente ao restaurante. Era ela, a danada, a temida, a nojenta, a ordinária da barata.

O problema deste inseto horroroso não é a sua presença, mas sim a sua audácia. Pois claro, não basta ela aparecer sorrateiramente entre as nossas pernas, ela gosta de subir nelas. As voadoras então adoram dar rasantes em nossa direção, como se brincassem de tiro ao alvo. Ganha a barata que acertar o maior nariz. Elas se divertem com o nosso frenesi, apavoram as mocinhas indefesas (e alguns mocinhos também, diga-se de passagem), e depois vão embora, satisfeitas, sorridentes. Eu quase consigo ouvir a gargalhada da barata que nem aquelas de bruxas más, alta e escrachada, diminuindo o volume aos poucos, como se estivesse indo embora após se embriagar com tanta diversão.

Enfim, voltando à nossa barata da noite, digamos que ela conseguiu atrair todas as atenções. Aliás, eu já ia me esquecendo, elas também adoram este lance de ter todos à sua procura, e na maioria das vezes morrem por causa disso. Morrem pela vaidade, eu diria. Pois a nossa barata era vaidosa que só. Fazia cócegas nas pernas de uma, e ai sumia. Quando os olhos relaxavam a procura, lá estava ela de novo, o tempo suficiente para que todos percebessem a sua presença. E pronto. Sumia novamente. Até que claro, uma hora ela se deu mal. O carinha da última mesa à direita, o qual todos tinham certeza que estava mais para lá de Bagdá, deu uma pisada certeira, sem dó nem piedade, sem nem um pingo de remorso.


O público aplaudiu, inclusive alguns de pé. Não porque se levantaram para aplaudir, mas sim porque já estavam prontos para correr. O carinha se sentiu um herói, fez pose para foto, e se lhe dessem uma caneta, era capaz de sair distribuindo autógrafos. Aos poucos o restaurante foi se acalmando e os assuntos de antes voltando às mesas. Quando tudo já estava quase normalizado, sai uma grávida da parte interna do restaurante, e preocupada pergunta: “A barata, já está resolvida?”. E alguém da outra mesa responde: “ah sim, ela foi fazer terapia!”. É claro que todos caíram na gargalhada. E posso lhes dizer o seguinte. Neste caso, quem riu por último, riu muito, mas muito melhor.

4 comentários:

  1. Carol!!! Que texto delicioso, divertido!!! Parabéns!!! E meu Deus, se eu pudesse escolher um inseto pra desaparecer do mundo, seriam as baratas!!!
    Beijos! Lu
    PS.: Ontem a Day me deixou babando falando da sua massa com molho de cogumelos e trufa! Hummm!!

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  2. Hahaha! Tá ótimo! Isso é cena de filme!

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  3. Essa barata deu o que falar, heim!

    Adorei!

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  4. Amei, Carol. Tenho verdadeiro pânico dessas atrevidas baratas e elas sempre me dão um verdadeiro cansaço. Entendo quando você diz que elas se divertem as nossas custas. Elas e o Ricardo, a rirem da minha luta inglória...kkkkk

    Beijos do Aredes

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