sábado, 16 de julho de 2011

Paris França - Gertrude Stein

Não gostei. Pronto, falei.

Comprei o livro com a expectativa lá em cima. Toda essa expectativa baseada na autora, Gertrude Stein, que conheci através do filme do Woody Allen, “Meia noite em Paris”. Ela, uma americana que foi morar em Paris ainda quando pequena, era grande conhecedora das artes, patrocinava pintores como Matisse e Picasso, e realizava o trabalho de revisão de escritores como Hemingway. Daí pensei: “Nossa, um livro dessa mulher deve ser algo assim inacreditável de maravilhoso”. E de fato ela é reconhecida como um gênio literário. Acho que muito gênio mesmo, ao ponto da minha mente limitada não conseguir entendê-la.

Gertrude Stein é considerada a Picasso dos textos. Literalmente. Sua escrita é inspirada no modernismo que ela encontrava nas telas de seus amigos pintores, ou seja, a realidade sendo retratada de várias formas inéditas, a ausência de regras, o simples e complexo ao mesmo tempo. E como ela faz isso? Através de uma escrita quase sem pontuações (não há um ponto de exclamação ou interrogação em todo o texto), onde a autora parece colocar no papel seus pensamentos da forma que eles vêem à cabeça, não se importando com repetições ou frases desconexas. Como se não bastasse, ela também escreve de forma circular. Ou seja, o mesmo assunto é abordado várias vezes durante o livro, em momentos distintos, como se tivesse pipocado novamente na mente da autora, recheando de novo alguns parágrafos, até o momento que algum outro assunto, às vezes sem a menor correlação, surge no pensamento dela e rouba a cena.

Vocês conseguem imaginar a quantidade de vezes que eu reli cada parágrafo para conseguir entender o que ela estava dizendo? Isso quando eu entendia. E quando ela mudava de assunto repentinamente, e eu só descobria dois parágrafos depois? E quando ela escrevia afirmações e perguntas e citações e mais afirmações e mais perguntas na mesma frase, sem nenhuma pontuação para ajudar? E quando ela passava uma, duas, às vezes três páginas inteiras falando exatamente sobre a mesma coisa, repetindo inúmeras vezes o mesmo pensamento? Sinceramente? Me irritei.

Eu gosto da escrita organizada e leve. Gosto do texto tipo “bóia”, sabe? Imagine-se deitado em cima de uma bóia no mar, e a corrente lhe levando. Gosto dos livros que me dão essa sensação, de estar sendo levada, sem esforço físico nem mental. E aí você me diz: “Ah Carol, mas você gostou de Saramago e Ensaio sobre a Cegueira”. E eu respondo: “Sim, gostei, e não é a economia de pontuação nem o assunto complexo que torna o texto difícil de ler. Muito pelo contrário. Saramago conseguiu facilitar a leitura, sendo necessário apenas alguns parágrafos para nos acostumarmos ao seu estilo, e mais nada.” Já com Gertrude, tive a sensação de que sou leiga demais, ou limitada demais, ou ansiosa demais, ou quem sabe tudo isso junto. A bóia furou, e eu tive que nadar contra a corrente, num esforço imenso para conseguir sair do lugar. Cansei.

No mais, o tema central do livro é interessante: Paris, França, os franceses, os estrangeiros, e as relações entre estes quatro elementos. Apesar de muito subjetivo, dá para se ter uma idéia de como era essa interação nas primeiras três décadas do século XX, principalmente o período pré-Segunda Guerra Mundial. É no mínimo curioso perceber como algumas características dessas relações simplesmente desapareceram ao longo dos últimos anos, e outras permaneceram tão intactas e atuais que chegam a assustar.

Enfim, o livro valeu pela experiência, mas acho difícil eu voltar a ler a autora. Mas se você, que é uma pessoa teimosa, quiser se aventurar pelo livro, sinta-se a vontade. Só não diga que não avisei!

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