quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando um Crocodilo Engole o Sol - Peter Godwin


Eu andei um pouco ausente do blog. Isto porque me entreti com um livro, este aí de cima. Acabei a leitura há alguns minutos. E com lágrimas nos olhos, fui navegar pela internet atrás da continuação da história. Sim, esta é uma história real. E não, ela ainda não teve o seu final feliz.

Peter Godwin, autor e personagem central do livro, descreve um período de 8 longos anos da sua vida. A história se passa no Zimbábue, na África. Peter nasceu lá, mas foi morar em Londres e depois se mudou para Nova York, onde é um jornalista. Seus pais, estes sim, moravam no Zimbábue. Os relatos são, basicamente, dos períodos nos quais Peter se encontrava no Zimbábue visitando seus pais.

A história da família em si é interessante. Tem drama, comédia, surpresas, e todos os elementos que compõem um enredo de sucesso. Mas o que comove o leitor (ou pelo menos, a mim) é a narrativa da situação do país, frente a um governo opressor, e a um povo morto de fome, sem saúde e sem perspectivas. Um país tomado pela miséria e pela doença. Uma história triste, tão triste que deixa o nosso coração apertado dentro do peito.

Zimbábue era um país rico e promissor. Mas sua história tomou o caminho inverso depois que Robert Mugabe, atual presidente (vitalício) do Zimbábue, junto com seu partido oposicionista, tirou o poder da minoria branca e o transferiu para a maioria negra. Até aí, tudo muito bonitinho. E teria sido, se Mugabe não tivesse virado o país de cabeça para baixo com a desapropriação das fazendas dos brancos em uma reforma agrária sem limites, desorganizada, e extremamente corrupta. Um detalhe: o que levava nas costas a economia do país eram justamente estas fazendas, grandes produtoras agrícolas, as quais foram levadas a falência, e carregaram o país junto com elas. O poder, que deveria ser da maioria negra, virou de uma minoria minúscula negra, comandada por Mugabe.

O livro acaba em 2004. Dentro de mim, ainda havia uma esperança das coisas lá terem mudado. Por isto corri para a internet. E a realidade me veio à tona. Nunca um livro me cortou tanto as asas. Nunca me senti tão amarrada ao chão.

O final não poderia ser mais trágico. O Zimbábue hoje luta contra uma inflação de 231 milhões por cento anuais. Para se ter uma ideia do que isto significa, os preços dobram a cada 2 dias. Se já não bastasse, 94% da população está desempregada, e metade de todo o Zimbábue passa fome. Sem contar com a epidemia de cólera, que atacou um país sem sistema sanitário, e já matou 4 mil pessoas.

E eu, que tenho uma implicância com livros de ficção, fico a imaginar como seria bom se isto tudo não passasse de mera criatividade.

Abaixo, um vídeo feito pela Rede Globo, sobre a situação no Zimbábue:

3 comentários:

  1. Muito bom o post, Carol. A história me lembrou os romances do Khaled Hassein - Caçador de Pipas e Cidade do Sol, onde ele descreve a vida no Afeganistão. Beijos Bruna.

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  2. Oi Bruninha, olha que coincidência: Comprei na sexta passada o "Cidade do Sol", e peguei emprestado com a minha mãe o "Caçador de Pipas". Estou louca para ler os livros. Dizem que são realmente bons. E devem ser!
    Obrigada pela visitinha e pelo elogio :)
    Beijocas,
    Carol

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  3. e pensar que LULA foi pessoalmente ao Zimbabue para assinar o acordo de US$ 100,000,000 do BNDES (empréstimo a fundo perdido).

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