domingo, 14 de fevereiro de 2010

Casa do Saber - Lagoa



Muitos de vocês devem conhecer a Casa do Saber, que fica na Lagoa. Isso, aquele prédio bonitinho com sempre um monte de cursos disponíveis para todos os gostos. Já fez algum dos cursos? Então, eu nunca tinha feito. Até que uns dois meses atrás, resolvi me embrenhar em um curso de literatura. Influência do blog, com certeza. Mas o fato é que achei o título do curso magnífico: "Ritmos do Rio em prosa e verso". Ou seja, aulas inteirinhas sobre tudo o que já foi escrito ou cantado sobre o Rio de Janeiro. Como se não bastasse, o curso também tinha um viés de oficina de escrita, onde os alunos poderiam trazer os seus textos e lê-los na sala de aula. Confesso que este negócio de ter "platéia" me deixou um pouco tensa, mas não hesitei. Me matriculei e aguardei ansiosa pela primeira aula.

E a primeira aula foi maravilhosa. Me encantei. Pelo lugar, pelas pessoas, pelo professor, por tudo. E me encantei mais ainda pelo meu Rio amado. Descobri fatos e historias do Rio que eu nem imaginava existirem. Passei a amá-lo mais. A desejá-lo mais. E claro, com o coração amolecido pelo sentimento, quis escrever algo sobre o Rio, que eu pudesse levar na aula seguinte.

Mas eu só quis. Como é difícil escrever sobre o que gostamos! Como é difícil expressar com as palavras aquilo que o coração sente! E eu não pude fazê-lo. Simplesmente não pude, não consegui, não tive capacidade. Com o dia da aula chegando, e o desespero batendo na porta, eu tive que correr para o plano B. E o plano B era escrever sobre São Paulo. E aí você me pergunta: "por que é mais fácil falar de São Paulo?". E eu te respondo: "porque é muito mais fácil fazer uma crítica do que um elogio". É claro que o texto sobre São Paulo fluiu que nem água. E eu nem precisei ser tão criativa, bastou usar alguns fatos que tinham acontecido justamente no dia anterior, e pronto, saiu um texto quentinho e fofinho do forno. (o texto é esse logo abaixo deste post: “Um dia em São Paulo”)

Cheguei para a aula atrasada, e muito, muito ansiosa. Tão ansiosa que me esqueci de avisar ao professor que eu tinha um texto. Resultado? A aula terminou, e eu não li. Antônio, nosso mestre querido, me disse: "Carol, porque você não me falou? Leia na próxima aula, ok?". E eu voltei para casa num misto de alívio e frustração. Alívio porque existia sim, uma chance do meu texto ser medíocre, e ao invés de eu receber aplausos, eu poderia receber aqueles sorrisos amarelos que as pessoas fazem quando não querem dizer a verdade, sabe? Mas ao mesmo tempo, frustração, porque sim, eu poderia ter agradado os outros alunos e recebido palmas e elogios. Quem sabe o professor gostasse também? Seria a glória, não?

Então eu guardei o texto bem guardadinho e pensei: ok, só mais uma semaninha, não é nada. O que eu não esperava é que eu fosse ser atacada por uma inspiração que me rendeu outro texto: "A Barata". Eu simplesmente adorei o texto sobre a barata, fiz a família inteira ler, enchi meus olhos de emoção e pensei: "que texto sobre São Paulo que nada, eu vou ler na aula sobre a barata!!!".

E a terceira aula chegou. Então bem mais confiante do que na aula anterior, eu cheguei e já fui logo avisando: "tenho um texto hein!" E passei a aula inteira sonhando com o momento no qual eu me tornaria sim, por que não, uma celebridade, uma escritora de renome internacional, praticamente uma diva! E este momento chegou, sentei na cadeirinha do professor e comecei a ler. Fui lendo, fui lendo, e claro, todas aquelas expectativas loucas que eu havia criado na minha cabeça foram caindo aos poucos, letra por letra, frase por frase. Até que no último ponto final eu me toquei que o texto até tinha agradado ao público, mas não foi assim algo tão espetacular. Na verdade, não havia passado nem perto disso.

Então eu fui para casa pensando: "Ah Carol, mas você também hein. Sempre cria mais expectativas do que a realidade pode lhe proporcionar. Sempre o mesmo erro... sempre". Neste momento eu já havia decidido que não ia mais levar texto nenhum para a aula, e que eu iria guardá-los apenas para este espaço aqui, o blog, onde eu escrevo de forma anônima, sem cobranças e sem expectativas malucas.

E assim fiz, cheguei para a quarta aula de mãos abanando. O professor logo perguntou: "Cadê seu texto?". E eu respondi: "não trouxe Antônio, não trouxe...". E nessa hora eu senti certo desapontamento no rosto dele. Então passei a aula inteira num dilema terrível: leio o texto sobre São Paulo ou não leio? Seria um risco grande, eu mesma tinha gostado mais do outro, e se o outro não tinha feito o sucesso que eu imaginava, porque esse faria? E dessa vez havia um agravante muito pior, nós tínhamos convidados na aula, escritores, de sucesso, que escreviam sobre o Rio de Janeiro. E agora? Eu tinha que decidir rápido. Então antes que os outros alunos começassem a ler seus textos, e eliminando assim minha vontade de desistir caso eles viessem com textos maravilhosos, tomei coragem e falei: "Antônio, eu tenho um texto". E ele, espantado, perguntou: "Mas tem? Fez agora?". "Não Antônio, já tinha, consegui resgatar pelo blackberry".

E aí algo inusitado aconteceu. Chegou minha vez, e desta vez eu estava sem muitas expectativas. Os textos dos meus amigos de classe tinham sido de fato maravilhosos, e se eu não tivesse falado antes, provavelmente eu teria desistido. Então sentei na cadeira do professor, e de forma muito despretensiosa comecei a ler. E por ironia do destino, todas as reações que eu gostaria de ter tido com o outro texto, eu tive nesse. As pessoas riram, se entreteram, gostaram. E letra por letra, frase por frase, eu fui descobrindo que aquele texto estava melhor que o outro. No final, eu já estava rindo junto com a platéia, numa sensação de felicidade plena. Obviamente, o texto não me tornou uma celebridade, nem uma diva, muito menos uma escritora de renome internacional. Mas eu nem queria mais isso. Bastavam aqueles aplausos fortes e aqueles sorrisos sinceros. Fui para casa neste dia tão feliz que errei o caminho duas vezes. E nem fiquei chateada com isso.

A quinta e a última aula seriam sobre poemas. E aí neste quesito eu nem me arrisquei mesmo. Meus poemas são infantis, simples, imaturos. Para piorar, eu simplesmente esqueci da quinta aula e não fui. Como assim esqueceu? Pois é, todas as aulas eram às quintas-feiras, menos essa, que era numa terça. Eu e minha cabeça de vento deletamos este pequeno detalhe e pronto, perdi a aula. Que raiva. Mas tudo bem, não adiantava nada chorar pelo leite derramado. O jeito era me contentar com o ocorrido.

A última aula foi maravilhosa com vários convidados poetas, os quais eu me sinto muito honrada de ter tido a oportunidade de escutá-los recitarem seus próprios poemas. Após a aula, um choppinho no Bar Lagoa de encerramento, e a promessa de nos encontrarmos ou nos próximos cursos, ou quem sabe numa roda literária. Não posso falar pelos outros, mas lhes digo o seguinte: eu cumprirei a promessa, com certeza!

Meus agradecimentos especiais para o professor Antônio Torres, que de tão simples não transparece a primeira vista o mestre literário que é. Antônio já escreveu inúmeros livros e já ganhou inúmeros prêmios. Seus livros foram traduzidos para os quatro cantos do mundo. E mesmo com tanto sucesso, continua sendo essa pessoa doce que, mesmo o conhecendo pouco, tenho certeza que assim é desde sempre. Muito obrigada.




OBS: A Casa do Saber também disponibiliza cursos na Livraria da Travessa do Barra Shopping, e em São Paulo na Rua Dr. Mario Ferraz, no bairro de Jardins, e no shopping Cidade Jardim.

2 comentários:

  1. Que beleza, Carol! Mas você não foi justa consigo mesma quanto à recepção do seu texto "A barata", que causou um grande impacto,com comentários assim: "A barata é um barato!" Além disso, você surpreendeu também como leitora de textos alheios. E obrigado pelas boas palavras sobre este velho escriba. Abs, Antônio (www.antoniotorres.com.br)

    ResponderExcluir
  2. Foi muito bom visitar a aula e ser um convidado do Antônio dez anos depois de ter sido aluno. Lugar mais que agradável e, sobretudo, uma turma muito afiada. Parabéns, Carol. Abraço,
    Henrique (www.henriquerodrigues.net)

    ResponderExcluir