domingo, 15 de novembro de 2009

O Escafandro e a Borboleta - Jean-Dominique Bauby


Tape o seu olho direito com uma das mãos. Agora fique inerte. Não mecha os braços, pernas, boca. Não respire fundo, não mude de posição. Apenas um movimento é permitido: o abrir e fechar do olho esquerdo. É este olho esquerdo a sua única conexão com o mundo exterior. Com ele você olha, se comunica, sobrevive. É através dele que você ainda se sente vivo, mesmo que esteja sim, parcialmente morto.

Permaneça um tempo assim. Consegue? Ok. Quanto tempo? Pois eu, não consegui nem um minuto. Alguns segundos foram suficientes para que um sentimento de afogamento tomasse conta de mim. E olha que não estamos falando aqui de prender a respiração, ou ficar preso dentro de um elevador. Estamos apenas tentando reproduzir o que Jean-Dominique enfrentou por quase um ano e meio.

O quê? Um ano e meio? Com apenas a pálpebra do olho esquerdo? É, isso mesmo. E eu fico na dúvida sobre qual adjetivo dou à "aventura" que acabei de ler. Porque nem "trágico", nem "surpreendente", nem "encorajador", muito menos "emocionante", podem descrever o que este homem, ou sua alma, consegue nos passar através deste livro.

Jean-Dominique era redator-chefe da revista Elle, em Paris, quando aos 43 anos sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou em coma durante 20 dias. Quando voltou, seu sistema motor encontrava-se deteriorado, sobrando apenas a pálpebra esquerda. Literalmente preso dentro de si, Jean-Dominique sofrera o que os médicos chamam de Locked-in Syndrome. Ou seja, a pessoa continua perfeitamente lúcida, mas seu corpo praticamente morre. Em uma prisão sem grades, nada mais é possível sem a ajuda de outros. Ou melhor, quase nada. Porque a mente, de forma quase milagrosa, aos poucos vai libertando Jean-Dominique de seu escafandro. Não que ele tenha retomado os movimentos. Mas sim, dentro de suas viagens imaginárias, ele retomou a liberdade que a vida, das formas mais criativas, consegue nos proporcionar.

O Escafandro e a Borboleta é um relato surpreendente de alguém que perdeu quase tudo, menos a profunda necessidade de viver. Ao final do livro, meio sem reação, me peguei com a seguinte pergunta pairando na minha mente, dela para ela própria: porque não voas mais? Será que é este escafandro que te prendes?

Jean-Dominique escreveu este livro com a ajuda de um sistema criado pela sua ortofonista. Ela criou uma ordem diferente para o alfabeto, das letras mais usadas no idioma francês para as menos usadas. Utilizando seu único instrumento, Jean-Dominique piscava sempre que Claude, sua fiel ajudante, falava a letra certa. Letra por letra, palavra por palavra, frase por frase, este livro foi produzido durante todas as manhãs por dois meses ininterruptos.

Dez dias após a publicação de seu livro, Jean-Dominique faleceu, de pneumonia.

sábado, 14 de novembro de 2009

Culinária experimental - Palitos de pão com ovo

Estou um tanto quanto receosa de começar este assunto aqui no blog, mas vamos lá.

Eu adoro cozinhar. Mas de uns tempos para cá, eu tenho estado bem longe das panelas. De fato, minha cozinha atual não ajuda: ela é mínima, desajeitada, desconfortável. Tudo nela é difícil, tudo cai, tudo está super apertado... Aos poucos, fui cansando de brigar com "ela", e cedi.

Mas isto não continuará assim por muito tempo! Não, eu não vou voltar à luta, apontar para a pia e dizer "sou eu quem mando!". Nada disso. O que está para acontecer é muito melhor. Eu estou me mudando! Sim, para um apartamento maior com, adivinhem, uma cozinha muito maior. E só de pensar nisso eu já fiquei com uma vontade enorme de colocar as mãos na massa. Mas por ora, enquanto a mudança não acontece, me envolvo apenas em pequenas aventuras. É como se fosse um aquecimento para o que está por vir, ou que pelo menos promete vir.

Mas então você me pergunta: e o receio? Receio de quê? Oras, receio dessa história de cozinha pequena ser apenas uma desculpa para não cozinhar mais. E se for? Bom, se isto realmente for verdade, provavelmente eu não irei cozinhar tudo que eu acho que vou na minha cozinha nova, e aí terei aberto um tema aqui no blog meio sem futuro.

Bom, vamos esperar para ver o que acontece, certo?

Por hoje, coloco aqui uma sugestão que tanto serve para o café da manhã quanto para um lanchinho (como este que eu acabei de fazer). Trata-se de um pão com ovo um pouquinho diferente, e mais gostoso.

Você vai precisar de:

- 2 fatias de pão de forma (o tipo de sua preferência);
- 2 ovos;
- 1 colher de sopa de manteiga (ou mais, fique a vontade na manteiga).
- sal a gosto

Encha uma panela pequena com água, coloque os 2 ovos dentro da panela e deixe em fogo alto até levantar fervura. Enquanto isto, corte as fatias de pão de forma em tiras. Derreta a manteiga em uma frigideira e jogue as fatias, mexendo sempre para não queimar o pão.


Quando elas estiverem fritas, separe-as em um prato e veja os ovos. A gema deve ficar mole, então não deixe ferver muito. Eu gosto dela bem molinha, então deixo apenas 20 segundos depois que começou a ferver. Se você não gosta tão molinho assim, é só deixar alguns segundos a mais. Lave os ovos em água fria, para que você consiga pegá-los sem queimar a mão. Abra-os e despeje tudo dentro de uma xícara. Coloque um pouquinho de sal e pronto. Agora é só molhar os palitos amanteigados nos ovos. Uma delícia.

Don Bistrô - Itaipava


O Don Bistrô é um daqueles restaurantes que você vai embora já com vontade de voltar. E eu tive a sorte de um dia conhecê-lo assim, por acaso. Como foi? Bom, era domingo à noite, estávamos com alguns amigos, e não queríamos que o final de semana acabasse assim tão rápido. A solução? Antes de voltar ao Rio, resolvemos parar para comer em algum lugar. Mas aonde? Quem conhece Itaipava sabe que a cidade fica deserta no domingo à noite. Sem muita opção, resolvemos tentar a sorte no shopping Estação, que por ser shopping, deveria ter alguma coisa aberta.

Chegamos lá e logo demos de cara com o Don Bistrô. Depois daquela bisoiada, chegou o momento do: "e aí galera, vamos entrar, parece legal aqui...". Entramos, e fomos muito bem recebidos pelo Marcelo, um senhor muito simpático, dono do estabelecimento. Sentamos na área interna do restaurante, que é pequenininho e coube na medida certa para a gente. Sem cerimônia, meu marido já logo se adiantou:

- Garçom, me vê a carta de vinhos, por favor.
- O Sr. pode levantar e escolher, fique a vontade.

Gostei! O lugar, além de ser restaurante, é também um bar de vinhos. As garrafas estão todas à mostra, como se estivessem em uma loja. Você escolhe pelo rótulo, e pede para abrir. Achou difícil? Marcelo ajuda. A variedade é ótima, e os preços são justos. Vinho escolhido, os pedidos foram feitos e tudo foi simplesmente maravilhoso.

Carol, mas e os detalhes? Bem, isto aconteceu há alguns meses atrás, e neste tempo eu ainda não tinha o blog. Maaaaassssss..... final de semana passado, novamente no domingo, estávamos com o casal de amigos Fábio e Andréa em Itaipava, e a ideia surgiu: vamos jantar antes de voltar ao Rio? Ideia aceita, o Rogério (do Bomtempo, post abaixo) nos sugeriu um italiano chamado Il Perugino. Acatamos a sugestão, mas quando chegamos ao lugar, minha suspeita se confirmou. O restaurante mesmo estava fechado, e aberta estava somente a pizzaria. Como já havíamos comido pizza no Bomtempo, resolvemos tentar a sorte no Clube do Filé, que.... xiiiii, fechado também. Até que, de repente, me veio à cabeça o Don Bistrô:

- Amor, se lembra daquele restaurante que fomos aquela vez? Não me lembro o nome. Num shopping... se lembra?

Bem, eu lembrava que o restaurante ficava no shopping Estação, mas não tinha certeza. Resolvemos arriscar, e graças a Deus, eu acertei. Chegamos, e lá estava Marcelo, pronto para nos receber. E foi nesse momento que adorei o fato dos outros restaurantes estarem fechados.

A varanda

A área interna

A carta de vinhos

O Don Bistrô é um lugar realmente especial. Ambiente aconchegante, comida deliciosa e atendimento pessoal. Tudo que eu provei lá é gostoso, tanto na primeira vez, quanto na segunda. O menu é simples e ao mesmo tempo variado. Para começar, um couvert (delicioso), alguns pasteizinhos e uma sopa de abóbora com gorgonzola que só durou alguns segundos na mesa.

Delícia de couvert: torradinhas com manteiga, patê, azeitonas, salaminho, beringela e abobrinha. Parece simples, mas tudo de ótima qualidade. Difícil parar de comer.

Fábio, em um momento inédito, comendo pastel com a mão. É isso aí Fabinho! O próximo objetivo é o bolinho de bacalhau. Tenho certeza que você vai conseguir!

Era uma vez... uma sopa de abóbora com gorgonzola. Nem para tirar foto a colherzinha parou.

Apesar do restaurante oferecer poucos pratos, a dúvida é cruel em qual pedir, já que todos parecem muito bons. A solução foi apelar para Marcelo, que nos sugeriu o filé com molho de mostarda e batata rostie. Resultado: quatro filés, com algumas pequenas variações (eu pedi com purê de mandioquinha, e o Fábio pediu o dele ao poivre). O único com mais personalidade foi Pedrinho, filho da Andréa, que pediu uma lazanha a bolonhesa muito bem pedida.


O original: filé com molho de mostarda e batata rostie.

A variação: mesmo molho, mas purê de mandioquinha como acompanhamento

Segunda variação: mesmo acompanhamento, mas poivre no lugar do molho de mostarda

A lazanha do Pedrinho, que todo mundo ficou torcendo para sobrar, e o menino comeu tudinho, o que foi realmente impressionante.

Para finalizar, um petit gateau e um sorvete de queijo e goiaba. Melhor impossível. O final de semana não poderia ter terminado melhor.

Petit Gateau. Preciso explicar alguma coisa?

Sorvete de queijo e goiaba. Não sobrou bola sobre bola.

O Don Bistrô fica no Shopping Estação: Estrada União Indústria, 11.000 - Loja 23. Tel: (24) 2222-5157. Mas preste atenção: no dia 2/12/2009, o restaurante será transferido para um novo espaço na Vila Luis Salvador, permanecendo no shopping o bar de vinhos com os petiscos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Bomtempo Resort em Itaipava

Se você quer passar um final de semana na serra, romântico ou com a família, esta dica que eu vou dar é muito boa. Agora, se você gosta de jogar tennis, aí essa dica é simplesmente excelente. Conhece o Bomtempo Resort? Pois é, o lugar é espetacular, o serviço é maravilhoso e o tempo é sempre bom, claro! Como se não bastasse, o resort conta com 4 quadras de saibro (sendo uma coberta), e toda a infraestrutura necessária para os mais aficionados no esporte, como professores, batedores, bar nas quadras, e etc. Depois do tennis, você pode continuar na pilha jogando squash, pádel, futebol, volei, basquete... Ou, se você for parecido comigo, vai correndo aproveitar a piscina do hotel, para depois se esbaldar no ofurô, e por último então relaxar no Spa, inaugurado há pouco tempo. Opção é o que não vai faltar.

À noite, o hotel oferece duas opções: um menu de dar água na boca e uma pizza à lenha que é uma de suas marcas registradas. Minha sugestão é: se você for passar apenas uma noite, peça a pizza e um vinhozinho, você não vai se arrepender. Se for passar mais de uma noite, aí você pode alternar. Mas, preciso lhe advertir: se estiver de dieta, deixe para provar a pizza no último dia, ou você vai passar a estadia inteira no dilema “pizza ou peixe com salada” que convenhamos, só tendo muita força de vontade para ir na segunda opção.

Nas noites de sábado, o resort sempre organiza um showzinho de MPB. Os músicos são sempre ótimos e simpáticos. Então, se você for corajoso que nem a Deise (e tiver uma voz boa e afinada que nem a dela, por favor!), peça para a bandinha lhe deixar tirar uma casquinha, e divirta-se!

Deise soltando o vozeirão!

O Bomtempo é assim. Carão de resort, jeitão de hotel familiar. Uma delícia, do início ao fim. Se tiver oportunidade, conheça o Rogério, o dono do hotel. Ele está sempre por lá, é um poço de simpatia e tem uma memória de elefante. Diz a lenda que ele lembra o nome de todos os hóspedes. Eu acho que é verdade, pois já fiquei sabendo de alguns casos (verídicos!) do tipo:

- Oi Rogério, lembra de mim?
- Claro que lembro! Você é o Jenisvaldo, marido da Valdicreide. Veio aqui em 15 de janeiro de 1999 e trouxe os seus filhos Valdinho e Creidete. Como estão as crianças?
- [silêncio, do tipo: não acredito!]

Encontrando o Rogério, não perca a oportunidade de informá-lo que “ o comeu na noite passada e que estava uma delícia”. Calma, calma, isso aqui não virou um blog pornográfico não, eu explico. Uma das pizzas se chama Rogério, é umas das mais gostosas, e claro, a brincadeira é ótima. Não precisa se preocupar, ele vai entender na hora. Eu já comi o Rogério muitas vezes e lhe digo: foram experiências inesquecíveis! :P

Bom, você passou um tempo ótimo no Bomtempo e definitivamente amou o lugar. Chegou o último dia, e infelizmente as malas tem que ser feitas. A dor da despedida é quase insuportável, você liga para a recepção e num tom de “isto é caso de vida ou morte” pergunta: posso sair um pouco mais tarde? Tudo bem, não precisa arrancar os cabelos ou implorar com voz de choro... Se o hotel não estiver esperando um grupo que vai chegar nas próximas horas, ele vai te dar sim um late check-out. Então, fique tranqüilo para aproveitar os últimos momentos neste paraíso e volte numa próxima oportunidade.

O Bomtempo fica na Estrada da Cachoeira, 400, Santa Mônica - Itaipava - Petrópolis.
Tel: (24) 2222-9922
Website: http://www.bomtemporesort.com.br/

* Informe-se sobre as clínicas de tennis, elas acontecem algumas vezes durante o ano, e atendem tanto a adultos quanto a crianças.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A Hora da Estrela – Clarice Lispector

Há um tempo eu venho com uma vontade meio enigmática de ler Clarice Lispector. Como assim enigmática? Porque é um enigma oras. De fato, eu nunca soube muita coisa sobre a escritora (eu sei, isto é uma vergonha, mas nada como ser sincera). Porém, o nome dela, Clarice Lispector, sempre me pareceu interessante. E ter um nome interessante já é meio caminho andado.

Pois então, totalmente ignorante na obra literária em questão, busquei no submarino.com algum livro dela que pela sinopse me interessasse. E gostei deste: “A Hora da Estrela”. Não acho que fiz má escolha (de certo, gostei bastante da historinha, já vou lhes contar), mas lendo a contracapa, descobri que neste livro “Clarice decide se afastar da inflexão intimista que caracteriza sua escrita para desafiar a realidade”. Ou seja, justamente neste livro ela resolveu inovar, e claro, continuo sem fazer ideia do que seria esta “inflexão intimista” de Clarice.

Mas vamos ao livro. Em primeiro lugar, Clarice se transforma em Rodrigo, um escritor. E é Rodrigo quem conta a historia de Macabéa, uma nordestina sem graça. Na verdade, a historia toda é criada por Rodrigo, que um dia cruzou com uma nordestina na rua, recebeu a inspiração, e a transformou em Macabéa. Mas não foi uma transformação fácil. Macabéa era por demais insignificante. Sua presença era tão frágil que poucos percebiam a sua existência. Em seu mundo sem horizontes, ela se contentava com uma vida insossa, com um passado ruim, um presente sem propósito, e um futuro impensado. Para Macabéa, talvez a morte lhe servisse melhor que a vida. E assim, da mesma forma que Rodrigo sente o desejo quase insuportável de criar Macabéa, ele começa a ter uma vontade irresistível de destruí-la.

Eu não conheço os outros livros de Clarice, e portanto não sei como seria esta tal de inflexão intimista. Mas uma coisa é certa: Clarice desvendou para nós, através de seu autor fictício chamado Rodrigo, a maior intimidade que um escritor pode ter. Pois não há nada mais íntimo a Rodrigo do que Macabéa. E não há nada mais íntimo a Clarice do que seus personagens, como por exemplo, Rodrigo.

Após ler o livro, fiquei então curiosa para entender como seria este outro lado intimista de Clarice. Talvez isto seja apenas uma deixa para continuar nesta busca pela escritora. Mas se tratando de Clarice Lispector, com esse nome tão interessante, e uma reputação tão gloriosa, eu pergunto: precisa de deixa? É, também acho que não.

Se você faz parte de algum fã clube da escritora, ou simplesmente percebeu que sabe mais sobre ela do que eu (o que não é difícil, convenhamos), deixe sua opinião aqui e me sugira um livro. Dela, é claro!