sábado, 29 de agosto de 2009

Festival da Pinga – Paraty - Rio de Janeiro


No final de semana passado rolou em Paraty o Festival da Pinga. E adivinha quem estava lá, marcando presença? Pois é, eu mesma. Mas não só eu, também foram mamãe, marido, irmãos e a namorada de um deles. Motivo? Não, não foi pela cachaça. Mas até que a gente gostou da bagunça.

Ok, isso está meio confuso, e eu explico. Meu irmão está indo estudar na Alemanha, vai passar no mínimo 2 anos lá, e a família já está em apuros com a saudade. Para amenizar um pouquinho, resolvemos viajar todos juntos em um final de semana. E logo quando surgiu a ideia, pensamos em Paraty. Pois bem, o Festival da Pinga ia acontecer bem no final de semana escolhido. Destino? Sina? Ou apenas uma boa coincidência?

Obviamente a cidade estava lotada, e não havia lugares disponíveis nas pousadas mais conhecidas. O jeito foi apelar pelo maravilhoso e insuperável Google, que rapidinho apareceu com uma pousada que não constava no guia quatro rodas. Minha mãe ligou para lá e, por sorte, ainda havia duas suites vagas. “Opaaaa! São minhas!!!” Foi o que a minha mãe falou para a telefonista da pousada, na maior animação. E eu fico a imaginar como deve ter sido a reação da telefonista, no outro lado da linha, ao escutar minha mãe dar um grito de euforia por conseguir hospedagem para o Festival da Pinga. Deve ter pensado: essa família gosta!

A pousada foi uma boa surpresa. Super charmosinha, bem decorada, com quartos grandes e confortáveis. O café da manhã no dia seguinte estava bem farto, com vários tipos de bolos e frutas. A pousada ainda conta com uma piscina bem legal e um deck para um rio que passa por trás do local. O único porém é a localização, quase na saída de Paraty, e longe do centro histórico para quem não vai de carro. Apesar disso, eu gostei muito do lugar e por isso indico.


Pousada Águas de Paraty
Rua 1 - Lotm Parque Ipê
Paraty - Rio de Janeiro
Tel: (24) 3371-2085/2618
As fotos foram retiradas do website da pousada

Quem não conhece Paraty não sabe o que está perdendo. O lugar é uma graça e o centro histórico, uma coisa fofa. O comércio é muito turístico, mas você encontra nele um artesanato bem legal. Por exemplo, eu comprei uns patos aqui para casa lindos, grandes, feitos de madeira maciça, super artesanais. Paguei uma pechincha. Aqui no Rio, se eu encontrasse estes patos, eles custariam no mínimo três vezes mais. Tudo bem que eu não tenho lugar em casa para colocar os patos, mas isso é somente um detalhe. Eu me apaixonei por eles, fazer o que?

Eles não são lindos? Coisinhas fofas da mamãe!

Agora, uma pausa para 3 confissões:

1) Eu adoro cachaça;
2) Eu fui tirar um cochilo às oito da noite e só acordei no dia seguinte;
3) Eu fui para o Festival da Pinga e não bebi um gole de pinga.

Pois é, aconteceu. Fiquei tão animada com as lojinhas de artesanato que esqueci a marvada. Andei, andei, andei, e claro, capotei. Estava tão cansada que nada me tirou da cama. No dia seguinte? Mais lojinhas, e a cachaça coitada foi para o ralo. Assim como também foram todas as fotos que eu gostaria de ter tirado do Festival. Vou ficar devendo. Mas entre uma comprinha e outra, consegui tirar estas fotos do centro histórico.

Essa loja era no mínimo interessante. Alguma vez já ficou bêbado só de olhar? Para tudo tem uma primeira vez na vida...

Para compensar esta minha falta de pinga, ou melhor, de fotos, trago aqui uma ótima dica gastronômica. A 20 minutos de Paraty, o restaurante Le Gite d'Indaiatiba não decepciona nem os mais exigentes. Ele é comandado por um francês e uma brasileira, que já moraram na África. Ou seja, culinária francesa abrasileirada com toques africanos. Conseguem imaginar? Enfim, só sei lhes dizer que a comida é simplesmente maravilhosa.

Para chegar ao Le Gite é meio complicado. Pegue a Rodovia Rio Santos sentido Rio de Janeiro, e vire a esquerda no km 558, logo após uma placa indicando “Graúna”. Daí siga toda vida até chegar a um vilarejo com uma igreja da Assembléia de Deus. Então vire a direita e siga pela estrada de terra a esquerda da estrada asfaltada. Continue por mais uns 2 quilômetros, e você encontrará o restaurante. O horário de atendimento é das 13:30h às 20:30h. Programe-se.

A vista do restaurante

O salão interno

Uma das entradas: ceviche de peixe branco com frutas. Sensacional.

Os pratos principais, das esquerda para direita: muqueca de siri catado, beef bourguignon e lulas ao curry caseiro. A mistureba ficou uma delícia. De lamber os beiços.

Le Gite d´Indaiatiba
Rodovia Rio-Santos (BR 101) – km 558
Graúna – Parati
Cel: 024-9999-9923
Tel: 024-3371-7174
contato@legitedindaiatiba.com.br
http://www.legitedindaiatiba.com.br/

E como tudo que é bom acaba rápido, nosso final de semana em família terminou num piscar de olhos. A volta foi longa e cansativa, mas valeu muito a pena. Irmão querido, vou sentir saudades, mas sei que o tempo passa rápido, e logo logo estaremos todos juntos novamente perambulando por aqui. Enquanto isso, não se esqueça de reservar o sofá cama e de conectar o skype. Ah, e também não se esqueça do mais importante: nós te amamos muito!

domingo, 16 de agosto de 2009

O Caçador de Pipas – Khaled Hosseini


Outro dia eu estava discutindo com a minha amiga Julie sobre livros. A questão era: eu não lia mais livros de ficção. E por um motivo simples. Eu os considerava uma perda total de tempo. Na minha cabeça, funcionava a seguinte lógica: se eu não assistia novela porque achava que era tempo perdido, imagine então gastar dias lendo um livro sobre uma história que nunca aconteceu, em um lugar que não existe, e com pessoas que nunca passaram de meros personagens? Por favor, entenda, não é que eu não gostasse de livros de ficção. Muito pelo contrário. Por exemplo, sou uma admiradora convicta do bruxinho criado por J. K. Rowling. E tem ficção mais ficção do que Harry Potter?

Pois então, voltando a conversa com Julie, ela me dizia:

- Mas amiga, os livros são escritos a partir de experiências do próprio autor. Eles nos trazem lições, nos emocionam, e nos fazem pensar em coisas da vida real.

E eu retrucava:

- Mas este é o problema: você nunca sabe o que é real, e o que é ficção. O autor pode inventar tudo, ou inventar nada. E com certeza, ele não irá te dizer que lado ele pesou mais.

Bom, a gente não chegou a um denominador comum. E nem precisava. Gosto por livros é igual a futebol, não se discute. Mas enfim, o fato é que fiquei pensando no assunto. Fiquei mesmo. Gastei um tempo tentando convencer a minha cabeça que talvez, quem sabe, eu deveria dar mais uma chance aos livros de ficção. Quem sabe, eu conseguisse distinguir a realidade da ficção, não em tudo, mas no que interessasse. E, quem sabe, eu tirasse uma boa lição de vida com cada um destes livros.

Então, quando toda aquela minha convicção sobre ficção deu uma brecha, eu entrei correndo no submarino.com e comprei cinco livros de ficção. Além disso, liguei para a minha mãe e pedi para ela emprestado o “Caçador de Pipas”. Pronto, estava formado o meu arsenal, é agora ou nunca!

E foi assim, um tanto receosa e muito descrente, que comecei a ler este último, o Caçador de Pipas, tema do post. E aqui, peço desculpas aos leitores pela introdução longa. Eu sei, me empolguei um pouco, mas foi preciso, e vocês irão entender.

Com o livro em mãos, comecei o ritual que sempre faço com tudo. Ou seja, o analisei por inteiro. A capa, contracapa, a resenha, o autor, as cores, o tamanho da letra, a quantidade de capítulos, e por ai vai. Passado meu momento psicótico, comecei a leitura.

E o resumo da ópera é o seguinte: minha língua está doendo até agora de tão forte que foi a mordida. Em outras palavras, minha amiga Julie estava tão certa como areia no deserto, e eu era aquela poça d’água que os mortos de sede vêem antes de desfalecerem. Parece verdade, mas é pura ilusão.

Desde a primeira página, o Caçador de Pipas me puxou como se eu fosse um peixe agarrado a um anzol. Quando percebi, eu já estava lá, dentro do livro, sentindo a dor dos personagens. Chorando com eles, rindo com eles, morrendo com eles. E aquela sensação que imaginei que fosse sentir, de estar lendo algo sem propósito, nunca passou perto. O imaginário se tornou o real, e a história me transformou muito mais que as notícias, muito reais, que eu leio no globo.com todos os dias.

O autor do livro é um afegão. Para os mais desavisados, quer dizer que ele nasceu no Afeganistão. Não apenas nasceu, ele viveu grande parte de sua infância lá. E é lá também que passa grande parte da história do livro. Bom, quando entendi isso, dei a minha primeira mordiscada na língua. Mas mal sabia que, quanto mais eu lesse, mais força as mordidas ganhariam.

Resumindo a história, Amir e Hassan são dois meninos inteligentes e espertos. Porém, como água e vinho, não poderiam ser mais diferentes um do outro. Amir é grande, mas fraco. Hassan é franzino, mas forte. Amir é rico, mas pobre de coração. Hassan é pobre, mas possuidor de riqueza que não se compra. Os dois viveram a infância juntos como amigos, mas apenas Hassan entendia o que realmente a palavra “amizade” significava. E assim, sendo contada pelo próprio Amir, a história se desenrola em uma sucessão de erros de Amir, uma explosão de sentimentos por Hassan, e uma avalanche de lições para se levar por toda a vida.

O final é lindo, poético, doloroso e ao mesmo tempo de uma felicidade estonteante. Mas é claro, eu não posso contar o desfecho desta história aqui. Apesar de achar que sou uma das últimas a ler o livro, ou a assistir o filme, acredito que ainda há atrasadildos como eu por aí. Então, se você é um deles, se renda o quanto antes e entre neste mundo de amor, culpa, medo, honra, inveja, coragem e redenção que Amir e Hassan nos apresentam.

Por último, não resisto, e lhes dou aqui uma palhinha do livro. Neste trecho, Hassan está ganhando de presente de aniversário do pai de Amir, o Baba, uma cirurgia para a correção de seu lábio leporino.

“Hassan talvez tivesse acreditado naquela história, mas eu não. Sabia que quando os médicos dizem que não vai doer você pode ter certeza de que está em maus lençóis. Apavorado, lembrei da minha circuncisão no ano anterior. O médico me disse a mesma coisa, garantindo que não ia doer nada. Mas, quando passou o efeito do tal remédio que entorpece, bem mais tarde naquela noite, parecia que alguém tinha enfiado carvão em brasa nos meus rins. Por que Baba tinha esperado eu fazer dez anos para mandar me circuncidarem é uma coisa que nunca consegui entender, e que nunca vou perdoar.
Adoraria ter também algum tipo de cicatriz que atraísse a simpatia de Baba. Não era justo. Hassan não tinha feito nada para conquistar a afeição de meu pai, simplesmente tinha nascido com aquele estúpido lábio leporino...
A cirurgia foi um sucesso. Ficamos todos um pouco chocados a primeira vez que removeram os curativos; no entanto, continuamos sorrindo, obedecendo as instruções do Dr. Kumar. Mas não foi fácil, pois o lábio superior de Hassan era uma coisa grotesca, todo inchado e em carne viva. Achei que ele ia gritar horrorizado quando a enfermeira lhe deu um espelho. Ali segurou a sua mão e ele ficou um bom tempo contemplando o próprio rosto. Depois, balbuciou algo que não entendi. Cheguei o ouvido mais perto da sua boca. Ele sussurrou de novo.
- Tashakor – Obrigado.
Então os seus lábios se contorceram e, desta vez, eu sabia exatamente o que ele estava fazendo. Estava sorrindo. Assim como tinha feito quando saiu do útero de sua mãe.
O inchaço foi diminuindo e, com o tempo, a ferida cicatrizou. Em alguns meses, não passava de uma linha rosada atravessando o lábio superior. No inverno seguinte, era apenas uma leve cicatriz. O que é bastante irônico. Porque foi justamente nesse inverno que Hassan parou de sorrir.”

domingo, 9 de agosto de 2009

Você já pensou em escrever um livro? - Sonia Belotto


Se você entra aqui sempre, sabe que estou passando por uma fase leitora. E como ainda não passei para outra fase, aqui vai mais uma dica de livro. Neste de hoje, o título não poderia dizer mais. Então, se você tem calafrios só de pensar em escrever, pode parar de ler o post por aqui mesmo, não perca seu tempo.

Porém, para quem tem aquela vontade guardada lá no fundo do baú de um dia escrever um livro, a tia Sonia vai ajudá-lo a transformar esta vontade em realidade. De forma muito gostosa, divertida e despretensiosa, ela vai te revelando o mundo da escrita através de dicas, exemplos, experiências próprias e técnicas nem um pouco complicadas.

Sonia ensina que para escrever bem, você deve se preocupar com 3 condições básicas: conhecer o leitor, conhecer o assunto e conhecer as técnicas de escrita. O resto é planejamento e suor. Sim, suor, pois como qualquer outra atividade, para se escrever bem tem de se praticar, e muito.

O livro é baratinho, a leitura é agradável e a aprendizagem é grande. Então, se você está na dúvida se, na vida, quer escrever um livro ou plantar uma árvore, compre o livro, leia e decida. Mas já vou lhe alertando, depois desta leitura, será difícil achar a pobre coitada da árvore mais interessante.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Quando um Crocodilo Engole o Sol - Peter Godwin


Eu andei um pouco ausente do blog. Isto porque me entreti com um livro, este aí de cima. Acabei a leitura há alguns minutos. E com lágrimas nos olhos, fui navegar pela internet atrás da continuação da história. Sim, esta é uma história real. E não, ela ainda não teve o seu final feliz.

Peter Godwin, autor e personagem central do livro, descreve um período de 8 longos anos da sua vida. A história se passa no Zimbábue, na África. Peter nasceu lá, mas foi morar em Londres e depois se mudou para Nova York, onde é um jornalista. Seus pais, estes sim, moravam no Zimbábue. Os relatos são, basicamente, dos períodos nos quais Peter se encontrava no Zimbábue visitando seus pais.

A história da família em si é interessante. Tem drama, comédia, surpresas, e todos os elementos que compõem um enredo de sucesso. Mas o que comove o leitor (ou pelo menos, a mim) é a narrativa da situação do país, frente a um governo opressor, e a um povo morto de fome, sem saúde e sem perspectivas. Um país tomado pela miséria e pela doença. Uma história triste, tão triste que deixa o nosso coração apertado dentro do peito.

Zimbábue era um país rico e promissor. Mas sua história tomou o caminho inverso depois que Robert Mugabe, atual presidente (vitalício) do Zimbábue, junto com seu partido oposicionista, tirou o poder da minoria branca e o transferiu para a maioria negra. Até aí, tudo muito bonitinho. E teria sido, se Mugabe não tivesse virado o país de cabeça para baixo com a desapropriação das fazendas dos brancos em uma reforma agrária sem limites, desorganizada, e extremamente corrupta. Um detalhe: o que levava nas costas a economia do país eram justamente estas fazendas, grandes produtoras agrícolas, as quais foram levadas a falência, e carregaram o país junto com elas. O poder, que deveria ser da maioria negra, virou de uma minoria minúscula negra, comandada por Mugabe.

O livro acaba em 2004. Dentro de mim, ainda havia uma esperança das coisas lá terem mudado. Por isto corri para a internet. E a realidade me veio à tona. Nunca um livro me cortou tanto as asas. Nunca me senti tão amarrada ao chão.

O final não poderia ser mais trágico. O Zimbábue hoje luta contra uma inflação de 231 milhões por cento anuais. Para se ter uma ideia do que isto significa, os preços dobram a cada 2 dias. Se já não bastasse, 94% da população está desempregada, e metade de todo o Zimbábue passa fome. Sem contar com a epidemia de cólera, que atacou um país sem sistema sanitário, e já matou 4 mil pessoas.

E eu, que tenho uma implicância com livros de ficção, fico a imaginar como seria bom se isto tudo não passasse de mera criatividade.

Abaixo, um vídeo feito pela Rede Globo, sobre a situação no Zimbábue: